Pouco depois do
anúncio de Fernando Haddad como candidato do PT à presidência da República,
feito pela presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), o advogado
Luiz Eduardo Greenhalgh, amigo de Lula e um dos fundadores do PT, leu uma carta
escrita pelo ex-presidente, em que ele pede, "de coração", para que
os eleitores que fossem votar nele, votem agora em Haddad.
"Se querem calar nossa voz e
derrotar nosso projeto para o País, estão muito enganados. Nós continuamos
vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora é Haddad",
afirma o ex-presidente. Confira a íntegra da carta:
Carta de Lula ao
povo brasileiro
"Por isso, quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim, que votem no companheiro Fernando Haddad para Presidente da República"
11/09/2018 17h26
Meus
amigos e minhas amigas,
Vocês já
devem saber que os tribunais proibiram minha candidatura a presidente da
República. Na verdade, proibiram o povo brasileiro de votar livremente para
mudar a triste realidade do país.
Nunca
aceitei a injustiça nem vou aceitar. Há mais de 40 anos ando junto com o povo,
defendendo a igualdade e a transformação do Brasil num país melhor e mais
justo. E foi andando pelo nosso país que vi de perto o sofrimento queimando na
alma e a esperança brilhando de novo nos olhos da nossa gente. Vi a indignação
com as coisas muito erradas que estão acontecendo e a vontade de melhorar de
vida outra vez.
Foi para
corrigir tantos erros e renovar a esperança no futuro que decidi ser candidato
a presidente. E apesar das mentiras e da perseguição, o povo nos abraçou nas
ruas e nos levou à liderança disparada em todas as pesquisas.
Há mais
de cinco meses estou preso injustamente. Não cometi nenhum crime e fui
condenado pela imprensa muito antes de ser julgado. Continuo desafiando os
procuradores da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro e o TRF-4 a apresentarem uma
única prova contra mim, pois não se pode condenar ninguém por crimes que não
praticou, por dinheiro que não desviou, por atos indeterminados.
Minha
condenação é uma farsa judicial, uma vingança política, sempre usando medidas
de exceção contra mim. Eles não querem prender e interditar apenas o cidadão
Luiz Inácio Lula da Silva. Querem prender e interditar o projeto de Brasil que
a maioria aprovou em quatro eleições consecutivas, e que só foi interrompido
por um golpe contra uma presidenta legitimamente eleita, que não cometeu crime
de responsabilidade, jogando o país no caos.
Vocês me
conhecem e sabem que eu jamais desistiria de lutar. Perdi minha companheira
Marisa, amargurada com tudo o que aconteceu a nossa família, mas não desisti,
até em homenagem a sua memória. Enfrentei as acusações com base na lei e no
direito. Denunciei as mentiras e os abusos de autoridade em todos os tribunais,
inclusive no Comitê de Direitos Humanos da ONU, que reconheceu meu direito de
ser candidato.
A
comunidade jurídica, dentro e fora do país, indignou-se com as aberrações
cometidas por Sergio Moro e pelo Tribunal de Porto Alegre. Lideranças de todo o
mundo denunciaram o atentado à democracia em que meu processo se transformou. A
imprensa internacional mostrou ao mundo o que a Globo tentou esconder.
E mesmo
assim os tribunais brasileiros me negaram o direito que é garantido pela
Constituição a qualquer cidadão, desde que não se chame Luiz Inácio Lula da
Silva. Negaram a decisão da ONU, desrespeitando do Pacto Internacional dos
Direitos Covis e Políticos que o Brasil assinou soberanamente.
Por ação,
omissão e protelação, o Judiciário brasileiro privou o país de um processo
eleitoral com a presença de todas as forças políticas. Cassaram o direito do
povo de votar livremente. Agora querem me proibir de falar ao povo e até de
aparecer na televisão. Me censuram, como na época da ditadura.
Talvez
nada disso tivesse acontecido se eu não liderasse todas as pesquisas de
intenção de votos. Talvez eu não estivesse preso se aceitasse abrir mão da
minha candidatura. Mas eu jamais trocaria a minha dignidade pela minha
liberdade, pelo compromisso que tenho com o povo brasileiro.
Fui
incluído artificialmente na Lei da Ficha Limpa para ser arbitrariamente
arrancado da disputa eleitoral, mas não deixarei que façam disto pretexto para
aprisionar o futuro do Brasil.
É diante
dessas circunstâncias que tenho de tomar uma decisão, no prazo que foi imposto
de forma arbitrária. Estou indicando ao PT e à Coligação "O Povo Feliz de
Novo" a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando
Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de
candidato a vice-presidente.
Fernando
Haddad, ministro da Educação em meu governo, foi responsável por uma das mais
importantes transformações em nosso país. Juntos, abrimos as portas da
Universidade para quase 4 milhões de alunos de escolas públicas, negros,
indígenas, filhos de trabalhadores que nunca tiveram antes esta oportunidade.
Juntos criamos o Prouni, o novo Fies, as cotas, o Fundeb, o Enem, o Plano
Nacional de Educação, o Pronatec e fizemos quatro vezes mais escolas técnicas
do que fizeram antes em cem anos. Criamos o futuro.
Haddad é
o coordenador do nosso Plano de Governo para tirar o país da crise, recebendo
contribuições de milhares de pessoas e discutindo cada ponto comigo. Ele será
meu representante nessa batalha para retomarmos o rumo do desenvolvimento e da
justiça social.
Se querem
calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o País, estão muito enganados.
Nós continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora é
Haddad.
Ao lado
dele, como candidata a vice-presidente, teremos a companheira Manuela D'Ávila,
confirmando nossa aliança histórica com o PCdoB, e que também conta com outras
forças, como o PROS, setores do PSB, lideranças de outros partidos e,
principalmente, com os movimentos sociais, trabalhadores da cidade e do campo,
expoentes das forças democráticas e populares.
A nossa
lealdade, minha, do Haddad e da Manuela, é com o povo em primeiro lugar. É com
os sonhos de quem quer viver outra vez num país em que todos tenham comida na
mesa, em que haja emprego, salário digno e proteção da lei para quem trabalha;
em que as crianças tenham escola e os jovens tenham futuro; em que as famílias
possam comprar o carro, a casa e continuar sonhando e realizando cada vez mais.
Um país em que todos tenham oportunidades e ninguém tenha privilégios.
Eu sei
que um dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida minha inocência.
E nesse dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo e da
esperança. Nós todos estaremos lá, juntos, para fazer o Brasil feliz de novo.
Quero
agradecer a solidariedade dos que me enviam mensagens e cartas, fazem orações e
atos públicos pela minha liberdade, que protestam no mundo inteiro contra a
perseguição e pela democracia, e especialmente aos que me acompanham diariamente
na vigília em frente ao lugar onde estou.
Um homem
pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não. Nenhum opressor pode ser
maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão chegar a todo mundo pela voz do
povo, mais alta e mais forte que as mentiras da Globo.
Por isso,
quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim, que votem no companheiro
Fernando Haddad para Presidente da República. E peço que votem nos nossos
candidatos a governador, deputado e senador para construirmos um país mais
democrático, com soberania, sem a privatização das empresas públicas, com mais
justiça social, mais educação, cultura, ciência e tecnologia, com mais
segurança, moradia e saúde, com mais emprego, salário digno e reforma agrária.
Nós já
somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para
milhões de brasileiros.
Até
breve, meus amigos e minhas amigas. Até a vitória!
Um abraço
do companheiro de sempre,
Luiz
Inácio Lula da Silva
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