Coluna SIM, É O BENEDITO - INÁCIA VAI, INÁCIA VOLTA

*Por Benedito Ferreira Marques 

INÁCIA VAI, INÁCIA VOLTA

         O nome Inácia Vaz continua gerando polêmicas e dividindo opiniões dos buritienses. De vez em quando, ressurge a discussão sobre suas origens e sobre a pertinência de ser lembrado em hinos da terra onde viveu e prosperou. O culto a esse nome emblemático interfere até no Hino à Padroeira Nossa Senhora Sant`Ana. Agora mesmo, durante o tradicional novenário do mês de julho (2020), o novo vigário da Paróquia teve a luminosa ideia de acrescentar uma estrofe ao hino religioso, ali entoado, há décadas, quiçá há mais de um século. Penso que o referendo sacerdote não sabia que a sua sugestão fosse ressuscitar a antiga cizânia entre os fiéis devotos da Santa. Louve-se, no entanto, a sua cautela, submetendo a proposta ao crivo da comunidade. A estrofe sugerida, ao meu olhar, não traduz viés político-ideológico, nem altera a melodia. Observei, no entanto, que o padre abriu um debate democrático saudável, porque as duas correntes que se formaram – a favor e contra -, têm um ponto em comum: manter o hino, em ritmo lento ou acelerado. O acréscimo proposto é pequeno e de fácil assimilação: “...desta terra tu és padroeira/Buriti terra de Inácia Vaz/abençoe este solo querido/abundantes colheitas terás...” Insta salientar que a consulta foi lançada em rede social, no Grupo da plataforma WhatsApp do grupo da AMIB (Associação dos Amigos de Buriti). É dizer, nem chegou ao feitio de “consulta plebiscitária”, na linguagem da Constituição brasileira.  Diante da passageira polêmica que se instaurou, preferi a prudência do silêncio, por algumas razões. Primeiro, porque não sei quem foi o autor da letra, nem da belíssima melodia, embora não creia que existam sucessores dos direitos autorais. A propósito, há poucos dias, vi em noticiários televisivos, que um bisneto de Luiz Gonzaga  (o “Rei do Baião”)teria reclamado – não sei a quem-, a utilização de um dos sucessos do seu bisavô em “propaganda oficial”, na inauguração de mais uma etapa da transposição do rio São Francisco (o “Velho Chico”)!?. Em segundo lugar, porque a estrofe guarda perfeita harmonia e coerência com a letra do Hino oficial do Município, se bem interpretada. Em terceiro lugar, porque já havia observado que a bela canção “O luar do Sertão”, do maranhense Catulo da Paixão Cearense, é cantada com a supressão (proposital ou não) de parte da letra, exatamente a que fala no “Maranhão”. Além disso, confesso que aprecio a execução de “Ave Maria”, em ritmo de samba, pelo consagrado Jorge Aragão. Que mal há nisso? Permito-me acrescentar, ainda como exemplo de supressão, que a introdução ao Hino Nacional brasileiro tem letra, e não se canta e nada acontece. Assim se se pode suprimir letra e modificar o ritmo da melodia, por que não admitir o acréscimo de mais uma estrofe ao Hino da Padroeira N.S. Sant`Ana sem alterar a melodia? 

    A despeito dessas ponderações pontuais,  e para não ser considerado omisso, como genuíno buritiense, e, ainda, porque a controvérsia abre espaço para outras incursões que envolvem minha área de conhecimento (Direito), considerei que não posso sovinar uma  opinião, em nome e por conta da liberdade de expressão, mesmo abusando do espaço desta coluna. Resolvi dar voz ao coro, instigando a pesquisa sobre o intrigante enigma das origens de Inácia Vaz, que permeia o debate aberto com ao proposta de acréscimo de apenas uma estrofe ao Hino da Padroeira Sant`Ana.  Não é o hino da Padroeira Sant`Ana que enseja preferências na comunidade buritiense, ainda que se queira discutir se a melodia deve ser lenta ou acelerada. Todos gostamos do hino, que, mesmo à distância, provoca saudades imorredouras. O que se há de debater é a inserção do nome de quem iniciou a povoação, da qual resultou a escolha de Nossa Senhora Sant`Ana como padroeira.  Para contribuir, permito-me lembrar que o Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Maranhão, Milson Coutinho, historiador, jornalista e escritor consagrado, publicou um livro sob o título “A cidade de Coelho Neto na História do Maranhão” (1984), no qual aborda a querela aberta entre as paróquias de Buriti e Coelho Neto, para entronizar a imagem da Santa. Esse livro, ao que me consta, integra o acervo da biblioteca da AMIB, entre os outros que lhe foram doados recentemente. Recomendo a leitura. Certo é que N.S. Sant`Ana é padroeira das duas paróquias e cada uma tem seu hino.

     Quanto à proposta do acréscimo de uma estrofe, só me resta desejar que a sugestão consiga despertar consciências adormecidas que permitiram a devastação das chapadas buritienses e, ao mesmo tempo, provocaram o desmonte da agricultura familiar do município, que foi substituída por extensos campos de lavoura de soja, cuja produção não propicia emprego e renda para a população, seja pela desculpa de que não há mão de obra qualificada, seja porque não há indústria   para processar o produto.  Já não há a abundância dos frutos doutr`ora. Lastimavelmente!

    Mas subsiste a indagação: QUEM FOI INÁCIA VAZ?  O próximo texto, nesta coluna, abordará o tema.

SOBRE O AUTOR

BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Comercial, atuando principalmente nos seguintes temas: direito agrário, reforma agrária, função social, contratos agrários e princípios constitucionais.NA Universidade Federal de Goiás, foi Vice-reitor, Coordenador do Curso de Mestrado em Direito Agrário e Diretor da Faculdade de Direito. Na Carreira de magistério, foi professor de Português no Ensino Médio; no Ensino Superior foi professor de Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial, sendo que, de 1976 a 1984, foi professor de Direito Civil na PUC de Goiás. Acompanhou pesquisas, participou de inúmeras bancas examinadoras de mestrado, autor de muitos artigos, textos em jornais, trabalhos publicados em anais de congressos, além de já ter publicado 12 livros, entre eles “A Guerra da Balaiada, à luz do direito”, “Marcas do Passado”, “Direito Agrário para Concursos”; e “Cambica de Buriti”; entre outros.


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