*Por Benedito Ferreira Marques
O SINCERICÍDIO DO PREFEITO
Em texto
anterior nesta coluna, ocupei-me do delicado tema relacionado com o suicídio –
referindo-me, ali, das aglomerações em grandes centros urbanos, antes que se
tenha uma vacina eficaz para o combate à COVID 19. As flexibilizações apressadas
de isolamento ou distanciamento social autorizadas por autoridades estaduais e
municipais estavam propiciando o aumento de mortes pelo contágio do novo Corona
vírus, o que caracterizaria, grosso modo, um verdadeiro suicídio coletivo, para não dizer suicídio em massa. Referi-me a
outras figuras que têm por desfecho a
morte. Esqueci-me, porém, do ecocídio,
fato que vem preocupando não apenas os ambientalistas militantes, mas a quantos
vêem nos incêndios na Amazônia e no Pantanal uma tragédia
para o planeta Terra. Se esses
incêndios são criminosos, configura-se o ecocídio, que deve ser punido com o
rigor das leis ambientais, mas se sabe que não é tão simples assim!
De repente, vejo a mídia desviar sua
atenção para outro tipo de suicídio: o sincericídio. Um político piauiense,
ex-Prefeito de Cocal, ao fazer um pronunciamento público – ao que parece, em
clima de comício -, com as seguintes afirmações:
. “...
eu fui Prefeito três vezes...mas também não roubei o tanto que esse aí roubou;
posso até ter tirado alguma coisa pra dar para os pobres......”
Ao invés de limitar-me ao riso
efêmero da “piada política”, pus-me a refletir sobre o significado das eleições
que ocorrem em nosso País, de dois em dois anos. Os resultados podem produzir
enganos e desenganos, a depender da motivação do eleitor, ao depositar seu voto
na urna. Convenci-me de que o povo já assimilou, bem, a noção de cidadania, graças à divulgação da
Constituição de 88, apelidada por Ulysses
Guimarães de “Constituição Cidadã”. Mas, lamentavelmente, também observo
que o voto, um dos mais importantes direitos do cidadão, ainda não ganhou a
roupagem cívica de que deve se vestir. Se assim não fosse, não teríamos
repetidos equívocos em escolhas eleitorais, desde vereadores, ao mais alto posto
da República. O voto é um dos mais importantes instrumentos do efetivo
exercício da cidadania e indutor da transformação social.
Não pode e não deve ser banalizado como tem ocorrido em muitos exemplos de
nossa história republicana. Já está
passando da hora de o povo compreender que somente ele pode mudar essa
realidade, em que políticos confessam, publicamente, que “roubam” e continuam
merecendo o voto. É hora de dar efetivo sentido cívico ao voto, que deve ser
livre e consciente, sem interferências de propagandas enganosas financiadas com
dinheiro público, ou estimulado por fake news.
Na minha compreensão, fundos partidários e eleitorais são fontes visíveis da
combatida corrupção. Não é isso que o eleitorado esclarecido
deseja numa DEMOCRACIA verdadeira. Eleições marcadas por vícios escondidos
afrontam o princípio da transparência, que
se prega e que se faz necessária na vida pública. Pensando bem, o sincericídio praticado pelo político cocalense
– a despeito do repúdio merecido -, talvez seja menos grave do que o “fakenewscídio”
já praticado nas eleições passadas e que, certamente, será repetido no próximo
pleito. Lastimavelmente! A confissão pública de “roubo” (ficaria tecnicamente
mais correto dizer-se “furto”, na linguagem jurídica) por um político eleito
três vezes Prefeito de uma cidade, com essa “sinceridade”, revela uma distorção
no sistema político-eleitoral, que há de ser banido da prática política. Essa
distorção deve ocorrer em centenas, talvez milhares, de outros municípios. Isso
reclama o “brado retumbante” de quem pode fazê-lo. O silêncio é covarde e
cúmplice.
Diante desse diagnóstico sombrio para
a vida política brasileira, não posso calar-me. Como cidadão comum, não filiado
a qualquer sigla partidária - e já
dispensado da obrigatoriedade do voto – , só me resta conclamar a todos quantos
tiverem acesso a este texto, que considerem as reflexões aqui reveladas, e, no
pleito que se avizinha, façam do sincericídio uma oportunidade de mudanças e,
do “fakenewscídio” pernicioso, o momento
de faxina, varrendo do cenário político tantos quantos enodoam o processo eleitoral,
a bem do BRASIL, “Pátria desarmada”!
SOBRE O AUTOR
BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004).
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