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Preso na Bolívia, Cesare Battisti agora cumprirá prisão perpétua em presídio na Itália


Ele estava foragido desde dezembro, quando Temer decretou sua extradição do Brasil. Autoridades italianas e brasileiras comemoram.

 Battisti, de 64 anos, estava foragido desde o último dia 14 de dezembro, após o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenar sua detenção e extradição para a Itália e o então presidente, Michel Temer, firmar um decreto nesse sentido.
O italiano foi detido na tarde do último sábado 12 na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra por uma equipe de agentes italianos e brasileiros ao caminhar pela rua, segundo fontes do Ministério do Interior italiano. As fontes afirmam que investigadores italianos nunca haviam perdido Battisti de vista, mas após sua saída do Brasil e chegada à Bolívia, se aceleraram os movimentos para sua detenção.
Battisti escapou da prisão na Itália em 1981, enquanto aguardava julgamento por acusações de quatro homicídios supostamente cometidos entre 1977 e 1979, quando era membro do grupo de extrema esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Na década de 1990, ele foi condenado à prisão perpétua à revelia. O italiano reconheceu ter feito parte do grupo, mas nega ter cometido homicídios.
Após passar décadas na França e no México, Battisti se instalou no Brasil em 2004, onde permaneceu escondido até a sua detenção em 2007. O STF autorizou sua extradição em 2009, mas os ministros disseram que a palavra final deveria ser do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que rejeitou a medida em 31 de dezembro de 2010, o último dia de seu segundo mandato.
Mesmo antes de empossado, o presidente Jair Bolsonaro havia prometido “presentear” a Itália com Battisti.
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, e os ministros do Interior, Matteo Salvini, e da Justiça, Alfonso Bonafede, concederam nesta segunda-feira 14 entrevista coletiva, no Palazzo Chigi, para analisar a captura e prisão de Cesare Battisti. Conte agradeceu o apoio do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. E Salvini telefonou para o brasileiro para transmitir os agradecimentos e prometendo fortalecer “os laços” com o Brasil.
O primeiro-ministro disse que o esforço para capturar Battisti e fazê-lo cumprir a pena na Itália é resultado de uma “longa negociação com o presidente Bolsonaro” para dar uma resposta às famílias das quatro vítimas dele. “Estamos falando de quatro assassinatos e de um terrorista”, ressaltou.
Conte disse que Battisti cumprirá pena de prisão perpétua na Itália. O Ministério da Justiça informou que ele será levado para o presídio de Oristano, na Sardenha. Inicialmente, Battisti ficaria na prisão de Rebibbia, em Roma, numa cela sozinho, em área de segurança reservada a terroristas e em regime de isolamento por um período de seis meses.
Chegada
Battisti chegou hoje (14) ao Aeroporto Ciampino, na capital italiana. Vestindo calça jeans e uma jaqueta marrom, ele desceu do avião sem algemas e foi recebido por agentes do grupo operacional móvel da polícia penitenciária.
O italiano foi capturado no último sábado (12) nas ruas de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, por agentes bolivianos em parceria com italianos. Segundo um vídeo feito no momento da prisão, ele usava barba, óculos de sol, jeans e camiseta azul. Não mostrou resistência, não apresentou documentos e respondeu a algumas perguntas em português.
Battisti se diz inocente e que foi vítima de perseguição política. Para as autoridades brasileiras e italianas, ele é considerado terrorista.

Mais sobre Cesare Battisti; entenda o caso

O terrorista italiano Cesare Battisti, 64, preso na madrugada deste domingo (13), foi personagem de um dos episódios mais controversos da política externa do governo Lula (2003-2010). 
Filho de comunistas, Battisti nasceu em 1954 e cresceu no contexto da Revolução Cubana e da Guerra do Vietnã. Ainda jovem militou no PCI (Partido Comunista Italiano), onde se opôs ao governo em um período conhecido como "anos de chumbo" na Itália (final dos anos 1960 e início dos anos 1980) que, apesar de democrático, foi marcado pela forte repressão do Estado e conflitos entre grupos de esquerda e paramilitares de direita.
 Battisti deixou o PCI em 1971 para aderir ao movimento da extrema esquerda Lotta Continua. Ele foi preso pela primeira vez em 1972 pelo crime de furto e, dois anos depois, por assalto a mão armada.
Foi na prisão que o ex-militante conheceu e entrou para o PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), grupo de origem marxista que, posteriormente, o ajudou a entrar na clandestinidade.
Battisti foi condenado por quatro assassinatos ocorridos entre 1977 e 1979 durante ações do PAC: o do agente penitenciário Antonio Santoro, o do joalheiro Pierluigi Torregiani, o do açougueiro Lino Sabadin e o do agente policial Andrea Campagna. Battisti sempre negou os crimes.
As acusações de que Battisti participou dos assassinatos partiram de seu ex-companheiro Pietro Mutti, que estava preso e optou pela delação premiada, conseguindo reduzir a sua pena.
Após a delação, Battisti foi julgado à revelia (sem a presença do réu e de testemunhas) na Itália e condenado à prisão perpétua.
Mas o italiano já estava longe. Com a criação da Doutrina Mitterrand, instituída pelo ex-governante da França François Mitterrand (1981-1995) que acolhia ex-militantes que decidissem abandonar a luta armada, Battisti deixou o México e se exilou em território francês, onde já havia vivido durante um ano na clandestinidade.
Anos mais tarde, Battisti já como escritor de romances policiais, foi surpreendido com a revisão da doutrina feita pelo sucessor de Miterrand, Jacques Chirac. Em meio a protestos de intelectuais e artistas, Battisti foi preso, mas voltou a ganhar liberdade. Quando a ordem para extradição à Itália se tornou definitiva, Battisti fugiu novamente.


NO BRASIL

Em março de 2007, Battisti foi detido no Rio de Janeiro e ficou preso no complexo penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. Mas em 2009, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, atendeu um recurso formulado pela defesa de Battisti e concedeu a ele refúgio político.
Battisti alegava que não havia conseguido exercer o direito de defesa e sustentava que as condenações decorriam de perseguição política do Estado Italiano.
A decisão do ministro foi defendida pelo ex-presidente Lula, que disse que a ação era "questão de soberania nacional".
No entanto, em novembro do mesmo ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu anular o refúgio, ao considerar que os crimes cometidos por Battisti foram comuns e não políticos. Apesar da decisão, a corte determinou que a palavra final caberia a Lula.
Na época do julgamento, Battisti chegou a fazer uma greve de fome em protesto ao que chamou de "retaliação do governo italiano".
A Itália, por sua vez, criticou duramente o refúgio e não aliviou as pressões. O governo chegou a ameaçar boicotar eventos esportivos no Brasil, como os Jogos Mundiais Militares no Rio, em 2011, e a Copa do Mundo de 2014.
Mesmo assim, em dezembro de 2010, Lula garantiu a permanência de Battisti no Brasil em decisão no último dia do mandato do petista.
Passados sete anos, quando a situação parecia mais tranquila a Battisti, o italiano foi preso por evasão de divisas em Corumbá (MS) e o caso voltou à tona. Ele foi detido na fronteira com a Bolívia ao transportar cerca de R$ 23 mil não declarados à Receita Federal brasileira.
Battisti diz que não tinha a intenção de fugir, mas sim de comprar materiais de pesca, vinhos e casacos de couro no país vizinho, que seriam mais baratos.
Com o fato novo, o então ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que o italiano quebrou a confiança do Brasil.
O então presidente Michel Temer decidiu revogar a condição de refugiado do italiano e extraditá-lo, mas optou por esperar que o STF decidisse sobre o habeas corpus preventivo a ele.
O ministro do Supremo Luiz Fux concedeu liminar que impediu a extradição do italiano até que o habeas corpus fosse analisado pela 1ª Turma da corte.
Já no final de 2018, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu urgência no julgamento do caso e, em dezembro, a Procuradoria pediu a prisão do italiano, que foi determinada por Fux.
 (Da Agência Brasil/Folha de São Paulo/CartaCapital)

Comentários

  1. Buriti não tem mais assunto?
    Resposta: TEM, MAIS É PORQUE AS COISAS CABELUDAS DA ATUAL GESTÃO TEM QUE FICAR DENTRO DO SACO.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esse canal é aberto e você, mesmo no anonimato, pode revelar “as coisas cabeludas” que você afirma acontecerem. Ou está blefando ou é covarde?

      Excluir

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