O blog iniciou no domingo 17 de março deste
ano, esta série especial, onde serão publicados textos sobre a vida de
poetas, escritores, críticas de livros referentes à Buriti de Inácia Vaz,
através do escritor e poeta Francisco Carlos Machado, autor de sete
livros já publicados.
Na COLUNA
UM OLHAR LITERÁRIO DE BURITI de hoje (31) você vai conhecer um poeta e
declamador talentoso. Veja abaixo.
*Por Francisco Carlos Machado
A
mãe do poeta Lulu Rocha, a professora e poetisa Sofia, no povoado Bom Jesus,
distante seis quilômetros de Buriti, não tendo com quem deixar seu filho de
cinco anos em casa, o levava para a alfabetização do Projeto João de Barro.
Junto com os adultos e jovens do povoado, em sala de aula o menino aprendeu a
ler. Para fazer os estudos formais vai morar em Buriti, estudando na Escola
Inácia Vaz. Faz o primário na Escola Antônio de Faria e o Ginásio no
Bandeirante. Muito ativo, ambicionando crescer mais ainda nos estudos, parte em
1982 para Teresina, cursando o Científico no Liceu Piauiense. Tendo neste
período contato com a literatura, principalmente com poetas românticos e
modernistas, seu dom de poeta eclodiu. De memória prodigiosa, decorava os
poemas dos poetas que gostava, escrevia os seus próprios poemas e passou a
participar de recitais na escola. Quando em férias em Buriti, travou amizade
com os poetas Lili Lago e José Borges, que o reconheceram como poeta. Formando
um trio de poetas, eles nas ruas, bares e nas conversas em Buriti, viviam a
declamar e discutir poesia, como um dos temas prediletos.
Concluindo
o científico, tentou vestibular para Direito. Não obtendo êxito e pretendendo
não parar os estudos, começou fazer mecânica e um curso de soldador no SENAI.
Retornando para Buriti é contratado para lecionar física e química na Escola
Carmem Costa. Em 1988 morando em Coelho Neto e trabalhando como torneiro
mecânico na Fabrica Itajubara, iniciou sua busca pela estabilidade financeira e
de aventuras pelo Brasil. Tendo uma tia em Porto Velho-RO, viaja pra trabalhar
neste Estado, ficando dois anos. Depois, trabalha nas cidades de Pontes,
Lacerda, Várzea Grande e Santa Elina, no Mato Grosso. Somente em 1993, volta
novamente para Buriti, onde por concurso público começou a ser professor do
Estado. Neste ano ele casa com Francilene Braga, de cuja relação nasceu duas
meninas.
Nas
eleições de 1996, disputando uma vaga no legislativo buritiense, não é eleito.
Muito endividado pelos gastos da campanha vai trabalhar em Manaus, objetivando
saldar as dívidas. Consegue contrato como professor pelo Estado do Amazonas.
Presta vestibular para Letras na Universidade Federal do Amazonas, concluindo o
curso em 2001. Em Dezembro de 2002 retorna outra vez ao seu Buriti. Reassume o
trabalho de Secretário na Escola Carmen Costa. Passando num concurso da
Prefeitura em 2007 começa a lecionar em escolas municipais, se dedicando
definitivamente à docência.
Sempre
dedicado e buscando o saber, começou em 2010 cursar Física no Programa Darcy
Ribeiro na UEMA, no Polo Coelho Neto. Neste ano também, afligido por crises
existenciais e alcoolismo, decidiu voltar para Deus, restaurando uma amizade
que viveu com Ele na adolescência quando estudante em Teresina. O mesmo se
juntou a uma comunidade cristã para comungar a fé, alcançado a paz e o
equilíbrio interior almejado.
Além
de bom poeta, Lulu Rocha é um declamador vibrante e talentoso que empolga o
público com suas performances cheias de vida e emoção. Ele tem ganhado
notoriedade pelos prêmios e classificações alcançadas nos últimos Festivais de
Poesia de Buriti, no qual foi um dos idealizadores.
Com
um lavra significativa de poemas já deveria organizar sua antologia. Projeto
que devemos encorajar, pois em muito enriqueceria nossa literatura local
buritiense, como da região.
A Triste
saga do trabalhador
Êta! Vida
miserável!
A vida do
trabalhador.
Seja letrado,
seja agricultor,
é doida.
É lamentável.
O pobre
coitado,
trabalha
feito condenado.
De sol a
pino, a sol a pino.
E ainda
há quem diga: é coisa do destino.
Entra
governo, sai governo.
Entra
administração, sai administração.
Permanece
o sufoco, a mesma situação.
O mesmo
desespero, o mesmo inferno.
A
precisão e a necessidade
parece
estar colado em sua pele
que até
sua alma fere
de tão amarga
que é nessa triste realidade.
Ao voltar
pra casa
no final
do dia.
Sofre
mais outra agonia.
Em seu
fogão, só há cinzas, nenhuma brasa.
Senhor, será
que isso é doença que não tem cura?
Trabalhar
até morrer neste rio de amargura?
Mais não
desanime não sô,
somos
filhos do mesmo Senhor.
Enquanto
houver vida, há esperança.
Continue
com a mesma perseverança.
Por que
há sempre um lugar ao sol pra quem trabalha.
A justiça
divina tarda, mas não falha.
Desertificação
Era tudo muito bonito
o verde da mata contrastava
com o azul do infinito.
Mas tudo, digo: findou, foi...
perdemos pros homens,
perdemos nos barulhos das motosserras.
O que antes estava intacto, vivaz:
pequi, araticum, bacuri e murici,
espinha dorsal da nossa imponente Chapada
Virou só poeira, estrada, rala gramínea.
Sem sombra, um solo cansado, desértico,
arenoso, com pouca ou sem nenhuma
chance de recuperação.
É o que resta do nosso pequeno torrão.
Um verdadeiro caos, antecipando juízo final.
E por onde agora se passa: poeira, fogo,
fumaça, madeira que virou carvão,
e a chapada, desertificação.
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