A UTILIDADE DOS IDIOTAS E IMBECIS
*Por Benedito Marques
Ariano Suassuna, numa de suas
inolvidáveis palestras, confessou ter uma afeição especial pelos loucos, porque
certos comportamentos deles revelavam mais lógica dos que se dizem normais.
Contou que, certa vez, o Governo da Paraíba distribuíra carrinhos de mão para introduzir terapias ocupacionais para os
internos de um hospício. Um deles conduziu o carrinho com a bacia (carroceria)
para baixo, ao que o psiquiatra o indagou por que assim procedia. E ele
respondeu: “para evitar que coloquem pedras para eu carregar”.
Na mesma
linha, contaram-me que um interno de um hospício moldava uma pessoa, tendo como
matéria prima a própria massa fecal. O psiquiatra lhe indagou quem ele
imaginava que estava fazendo. Ele respondeu: “um deputado”. E o médico, então,
questionou: “por que não faz logo um senador? E ele respondeu, de pronto: “a
massa é pouca”.
Como se
vê, os chamados loucos têm suas
lógicas. A propósito, o Código Civil brasileiro, editado em 1916, utilizava a
expressão “loucos de todo gênero”, para identificar as pessoas relativamente incapazes, aos quais
deviam ser nomeados curadores, suprindo-lhes a incapacidade civil, mesmo sendo
de maior idade. Tal expressão era muito criticada. Hoje, os incapazes por
doenças mentais são considerados “amentais”. Ficou mais aceitável esse novo
nome de “doido” que, até então, eram os loucos.
Muitos
confundem a palavra “louco” com “idiota” ou “imbecil”. Os dicionários registram
que não é bem assim, embora haja algumas similitudes. Idiota é a pessoa que
carece de inteligência, de discernimento, tolo, ignorante, estúpido. Já o
imbecil – guardadas as sutis semelhanças –; é aquele que denota inteligência
curta ou possui pouco juízo; bobo, alienado. Pois bem. No dia 15.05.2019, fui
“idiota” e “imbecil”, porque, por cerca de meia hora, infiltrei-me entre os
manifestantes em Goiânia (GO), na Praça Universitária, como um desconhecido, em
solidariedade aos estudantes (na sua grande maioria), professores e servidores
da Universidade Federal de Goiás. Não
fui reconhecido pela chamada “garotada”, ao gosto do “Senhor” Presidente da
República, nem pelos demais manifestantes. Era explicável, pois, há 10 anos,
estou afastado da salas de aulas. Fui
apanhado pela aposentadoria compulsória (70 anos) em 2009. Quando resolvi
retirar-me daquela aglomeração, que se formava rapidamente, ouvi, pelo rádio do
meu carro, a notícia de que a maior
autoridade do Brasil, naquele dia em viagem diplomática nos Estados Unidos,
respondeu, a seu modo, a uma indagação da imprensa sobre as manifestações nas
ruas e praças, protestando contra o corte (ou “contingenciamento”) de 30% na
Educação, disse (e ouvi bem): “São militantes, uns idiotas e imbecis que
servem de massa de manobra em favor de uma minoria espertalhona...”
É
evidente que essa manifestação antecipou as festas juninas, acendendo as
fogueiras de São João, porque conferiu mais força à movimentação, inicialmente,
tímida.
Naquele
momento, fiquei pasmo e comentei com o companheiro que conduzia o meu carro:
“Bem feito, Benedito”! Senti-me, com um sorriso orgulhoso, um “idiota” e um,
“imbecil”, aos 79 anos de idade. Só não me considerei “massa
da manobra”, porque fui manobrado
pela minha consciência política própria, alimentada pela gratidão e patriotismo
verdadeiro, depois de 33 anos de magistério
superior em Direito, passando por períodos de gestão, na Universidade, onde,
não poucas vezes, saquei dinheiro do próprio bolso, para comprar papel de
prova, substituir lâmpadas queimadas em salas de aulas etc. Afinal, meu curso
de graduação em Direito foi feito numa Universidade Pública (UFMA - Maranhão),
fiz Mestrado e Doutorado em Universidades Públicas (UFG-Goiás e UFPE-Pernambuco,
respectivamente); minha esposa fez graduação numa Universidade Pública (UFMA -
Maranhão), minhas filhas fizeram seus cursos de graduação e de Mestrado em
Universidade Pública (UFG-Goiás); minha primeira neta também fez a sua graduação numa Universidade
Pública (UFG-Goiás); meu genro também fez seu curso de graduação na mesma UFG
(Goiás) e, para completar, minha segunda neta está cursando Psicologia, na
Universidade Federal de Santa Catarina. Com essas justificativas, penso que não
pousei de “massa de manobra”, até porque não sou filiado a nenhum Partido
político, nem pretendo sê-lo. Tenho minha consciência política construída desde
os meus tempos de ginásio, em Parnaíba (PI), nos anos 50 do século passado.
Minhas convicções políticas e ideológicas são próprias, ganharam maior
densidade na militância universitária, no Maranhão, nos anos 60, também do
século passado.
No dia seguinte às manifestações ocorridas em
mais de 200 municípios brasileiros, incluindo as Capitais de todos os Estados e
Brasília, a mídia noticiou que o “Senhor” Ministro da Educação – depois de
várias horas de sabatina a que fora submetido na Câmara dos Deputados, que, um
dia antes, aprovara a sua convocação
por 307 dos 513 deputados -, convidou a todos os reitores das Universidades
para apresentarem suas pautas prioritárias. Soube-se que mais de 50 reitores
atenderam ao convite, e saíram da reunião com a promessa de que seria examinado
caso a caso. Um assessor do Ministério (MEC), em rápida entrevista à imprensa,
classificou as soluções como “meros atos operacionais” !!! É esperar para ver.
De
qualquer forma, o balanço que se faz das manifestações de milhares de pessoas
no dia 15 de maio é o de que as pessoas - mobilizadas ou não, por redes sociais
-, tiveram um ingrediente nas suas motivações, que foram a “instigação
presidencial”, pensada ou de improviso, e a forma não muito elegante do titular
da pasta da Educação, perante os parlamentares. Um certo deputado, em dado
momento, quando reclamava a atenção daquela autoridade para a sua fala,
terminou tachando o “Senhor Ministro” de “moleque”. Mais uma palavra a ser
acrescentada no rol daquelas já mencionadas neste texto. Ao fim e ao cabo, ao
menos o convite aos reitores e a amenização da tensão em manifestação
presidencial no dia seguinte demonstraram que os “idiotas e imbecis” – servindo
ou não de “massa de manobra” para “minorias espertalhonas” -, suavizaram a
ambientação política, que parecia a mesma que levou Jânio Quadros à renúncia,
em apenas 8 meses de Governo, em 1960. Aliás, um texto anônimo divulgado nas
redes sociais, por repasse do próprio Primeiro Mandatário da Nação, vem sendo
insistentemente compartilhado, não sei com que propósito. Talvez seja o
prenúncio do “tsunami” por ele prometido, há alguns dias.
O que
parece induvidoso é que os idiotas e imbecis – entre os quais sou obrigado a me
incluir -, foram úteis, ao menos
para sensibilizar o Ministro da Educação a pensar a EDUCAÇÃO e apresentar seu
projeto para a crise educacional em nosso País, em todos os níveis e graus,
compreendendo o ensino, a pesquisa e a extensão, pilares edificados e
solidificados na Constituição-Cidadã, que recepcionou a “Lei de Diretrizes e
Bases da Educação” brasileira. Tomara que isso aconteça, sem ideologização maniqueísta - a meu
pensar, perniciosa e destrutiva -, abraçando a causa sem apegos nostálgicos, tentando
reintroduzir costumes e disciplina rígida dos tempos das palmatórias, que já
não se concebem em pleno século XXI. Atrevo-me a considerar uma utopia o afã de patrulhar professores e
estudantes, afastando-os do “livre pensar” e da conscientização sadia e em
sintonia com a modernidade. Se forem essas as propostas governamentais,
registrar-se-á um cruel retrocesso na Educação de nosso País, pois o que se
reclama é a melhoria do sistema educacional, com ensino de qualidade, mais
pesquisas, melhor qualificação dos docentes em todos os níveis, com salários
mais dignos. Foi isso que a grande maioria dos milhares de participantes nas
manifestações do dia 15 de maio quiseram transmitir. Pensar que as mobilizações foram organizadas
por ”minorias espertalhonas” é admitir que essas minorias têm lideranças, o que
desmistifica o discurso irônico. Querer “enquadrar” professores e estudantes na
linha disciplinar de outros tempos é ignorar a evolução do pensamento, é
retroceder e ignorar a evolução tecnológica, em tempos de comunicação rápida.
Escrevo
este texto quando já se está divulgando, fartamente, nas redes sociais,
manifestações de cunho revanchista,
pois não há um fato concreto a justificá-las, senão o propósito nocivo e
perverso de continuar dividindo o povo brasileiro em duas partes. As eleições
já se passaram, o Presidente foi eleito e já está empossado. Só falta governar, ainda que a “carta
anônima” aponte para os embaraços das “forças ocultas” de que falou Jânio
Quadros.
Oxalá
não recrudesça o furor das “massas de manobras”, no meio das quais se infiltrem
ativistas violentos, fazendo “balbúrdias” nas ruas e praças, para, depois, culparem
o “LULA LIVRE!”, uma bandeira real e
consistente para quem conhece um pouco de Direito.
Afinal,
se os IDIOTAS e IMBECIS foram ÚTEIS em benefício de “minorias espertalhonas”,
poder-se-á dizer que as novas manifestações programadas poderão ser
classificadas como INÚTEIS, em
benefício de uma MAIORIA assustada
com os idiotas e imbecis minoritários.
SOBRE O AUTOR
BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004).
Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Comercial, atuando
principalmente nos seguintes temas: direito agrário, reforma agrária, função
social, contratos agrários e princípios constitucionais.
NA Universidade Federal de Goiás, foi Vice-reitor, Coordenador do Curso de
Mestrado em Direito Agrário e Diretor da Faculdade de Direito. Na Carreira de
magistério, foi professor de Português no Ensino Médio; no Ensino Superior foi
professor de Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial, sendo que, de
1976 a 1984, foi professor de Direito Civil na PUC de Goiás.
Acompanhou pesquisas, participou de inúmeras bancas examinadoras de mestrado,
autor de muitos artigos, textos em jornais, trabalhos publicados em anais de
congressos, além de já ter publicado 12 livros, entre eles “A Guerra da
Balaiada, à luz do direito”, “Marcas do Passado”, “Direito Agrário para
Concursos”; e “Cambica de Buriti”; entre outros.
SOBRE O AUTOR
BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004).
Bomba Bomba Bomba , pense no fiofó apertado que tá o do cara, na iminência de perder tudo que se apropriou do alheio, o bicho vai pegar, já está nas mãos de ferro do homem sem dó da justiça. Por isso que é sempre bom ouvir a sabedoria dos mais velhos: SE NÃO É SEU DEVOLVA, não dê uma de espertalhão gatuno, AGORA A CASA CAIU A FARRA ACABOU! kkKkKkk
ResponderExcluirEu acho que eu sei quem é!
ResponderExcluir