*Benedito Ferreira Marques
ALVÍSSARAS PARA O ENSINO BÁSICO
Perspectivas e desafios do novo FUNDEB
“A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (CF, artigo 205)
Acompanhei, com atenção,
interesse e entusiasmo, as discussões e votações da PEC nº 15/2015, que trata da
manutenção e ampliação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), em sessões históricas
realizadas na Câmara dos Deputados, na tarde/noite do dia 21.7.2020. A proveitosa jornada parlamentar terminou às
23h25. Foram expressivas as votações nos dois turnos. Na avaliação dos
comentaristas, isso se deveu à mobilização da sociedade, sequiosa não apenas
pela manutenção do Fundo, que é responsável maior pelo pagamento dos
professores e servidores que atuam nas escolas públicas do ensino básico
(fundamental e médio) em nosso País. O texto aprovado agora está no Senado da
República, onde se espera, também, a sua aprovação por larga maioria de votos.
Bastarão 49 votos dos 81 Senadores. É, portanto, motivo para alegrias e
euforia, já que não apenas foi mantido o FUNDEB, mas sobretudo porque significativas
mudanças foram introduzidas no marco regulatório do importante Fundo, cuja
concepção ganhou espaço permanente na “Lei Maior” do País. Além do caráter
definitivo que a emenda propicia, destaco, para os propósitos desta abordagem, três
pontos, sem desmerecer inúmeras inovações positivas, a saber: 1º -– a valorização do ensino básico, que atende
a milhões de crianças e jovens em escolas públicas; 2º- o percentual de participação complementar devido pela União aos
Estados e Municípios sobe de 10% para 23%, de
forma escalonada até 2026; e 3} – contempla a faixa da primeira infância (de 1 a 5 anos).
Essas alvissareiras mudanças dão maior segurança ao Fundo, garante melhores
salários aos professores e servidores, e introduz uma efetiva política de
creches com iniciação de aprendizado, já na primeira infância.
Para todos os educadores – inclusive os de nível superior -,
é consensual o entendimento de que depende do ensino básico a melhor qualidade
do que oferecem as Universidades, além de permitir melhores condições para
alavancar cursos profissionalizantes
de alto nível, preparando mão-de-obra mais qualificada para atender às demandas
no mercado de trabalho.
As expectativas, portanto,
são animadoras no espectro educacional. Já não era sem tempo colocar a EDUCAÇÃO
no topo das prioridades governamentais, ultimamente relegada ao descaso
público. Há motivos para alimentar esperanças. Contudo, é preciso atentar para
os desafios que advirão. Primeiro, os sombrios horizontes para a economia
brasileira, após a pandemia da COVID 19. Sem dúvida, será outra guerra, cuja
vitória dependerá do esforço de todos e das despolitização de medidas austeras,
que certamente serão implementadas nos próximos anos Recuperar a economia
brutalmente atingida com o isolamento necessário da população, exigirá
desempenho hercúleo de cada segmento social. Os repasses dos almejados recursos
poderão sofrer atrasos, por decorrência das conjunturas econômicas, que, sem
dúvida, darão suporte aos discursos desculposos dos governantes. O segundo
desafio, ao meu pensar, será a implementação de uma imediata política de
qualificação dos docentes, que se refletirá na melhor performance em salas de
aulas ou fora delas, aproveitando a tecnologia disponível. O “novo normal” para
a educação não poderá dispensar as ferramentas digitais, até porque o alunado
assimilará com mais facilidade os instrumentos que, em linha de investimento,
serão disponibilizados em cada estabelecimento.
Paralelamente a isso, espera-se uma sensível mudança de mentalidade da
categoria, desgarrando-se de práticas obsoletas no processo ensino-aprendizagem.
O terceiro desafio, na minha óptica, será o necessário envolvimento da
sociedade nas ações programadas pelas autoridades educacionais, de forma
compartilhada, quando possível. É preciso que todos – governantes, gestores e
sociedade -, tenham sempre em mente o preceito constitucional transcrito no
frontispício deste texto, para que, de mãos dadas, se promova o Brasil
do futuro, na direção segura do pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Nessa perspectiva, basta um
exemplo aos desígnios desta narrativa. No povoado Barro Branco, no Município de
Buriti (MA), que inspirou este blog,
de responsabilidade do talentoso, dinâmico e idealista Aliandro Borges, a “Família
Ferreira Marques”,- genuinamente buritiense -, disponibilizou à Unidade de ensino local e estendeu a todas
as demais do Município, uma quadra esportiva iluminada e uma pista de
atletismo, observado o nível da idade dos estudantes. Esse miniparque esportivo,
todavia, mesmo antes do isolamento social necessário imposto pela pandemia do
COVID 19, está subutilizado, porque não há professores de educação física,
circunstância que, por vias oblíquas, resvala para a desmotivação e
desinteresse dos gestores educacionais. Seguramente, esse quadro propicia
justificável desalento para uma família que, às suas inteiras expensas, construiu
essa infraestrutura, a pedido dos próprios professores.
Ao fim e ao cabo, conclui-se
que não
bastam leis e verbas; é preciso que governantes escolhidos pelo povo e
gestores responsáveis pelos projetos educacionais de unidades de ensino
espalhadas em mais de cinco mil municípios brasileiros, se conscientizem de que
a busca de melhor desempenho de milhões de estudantes deve ser uma constante nas suas preocupações. O processo ensino-aprendizagem exige esforços
conjugados de todos. Não se pode dispensar compartilhamentos de esforços
gratuitos de segmentos sociais interessados em exercer o seu papel
constitucional. Relegar a segundo plano adjutórios voluntários bem
intencionados compromete qualquer gestão. Sem essa compreensão, os aportes
oferecidos cairão no vazio da inocuidade, gerando frustrações nos propósitos
salutares da iniciativa privada.
O Novo FUNDEB é importante,
sim, mas não basta por si mesmo para a melhor qualidade do ensino em todos os
estabelecimentos espalhados Brasil
afora. Esse é um dos desafios que
precisa ser enfrentado, com consciência patriótica e responsabilidade cívica.
BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004).
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