*Benedito Ferreira Marques
CANTO, PRANTO E PARÓDIA
“O Brasil está de parabéns; é o país que mais preserva o
meio ambiente” (Palavras do
Presidente, em 17.9.2020)
As cigarras cantam sem parar,
da chapada, em algum
lugar.
Ninguém as vê.
São cânticos intermitentes...
persistentes,
como se fosse um só.
É um coro
ensurdecedor
de milhares... Muita
dor!!!
A sabedoria
sertaneja não lastima:
é sinal de chuva que se aproxima.
Bom sinal! Bendito sinal!
Sem maestro formado,
a orquestra matuta
ainda luta, ainda
luta,
nos campos, nos
cantos...
Em vão? Não sei,
não.
Acorda os teimosos dos alambiques.
Bendita teimosia!
Bendita teimosia!
Da mandioca, a
tiquira;
das cacimbas, água
fria,
da palhoça, a
moradia.
E as cigarras? Ah!
As cigarras!
Continuam cantando,
gemendo, chorando...
Aqui, é o manifesto
de gente saudosa;
de gente nostálgica,
de gente chorosa,
a seu modo, na urbe clamando...
É um canto longínquo
que a distância abafa
no meio do caminho;
e não chega aos
ouvidos de quem precisa ouvir.
Talvez o seu eco o
seja em futuro. Quem sabe !?
A esperança não
morreu, nem morre.
Ao menos isso, tomara!
Que não se diga que
o canto da cigarra-gente
foi cantado no deserto das desilusões,
onde os ouvidos não
ouvem e os corações não sentem.
E a ilha de barro
ainda branco,
cercada de campos,
na frente, nos
fundos,
de lado a lado,
resiste em lamentos,
dos pequizeiros
d`outrora,
das sapucaias d`agora.
Mudaram a paisagem,
sem prévia passagem,
e destruíram a
imagem...
Só existem
campos...campos extensos, imensos...de soja.
E quando a moita
teima em ficar,
o homem a derruba a
golpes de foices;
também a machados,
amolados, afiados, impiedosos.
Então o poeta entra em cena,
sem fazer cena,
sem pedir licença
e recita em pranto,
parodiando Drummond:
E a agora José?
A mata caiu,
o galho secou,
a folha murchou,
o fogo queimou,
o verde sumiu,
E agora José?
(MARQUES, Benedito.
Vivências: prosas & poesias na
sombra do ócio”. 2013)
P.S. - Minha gratidão aos profissionais da saúde Débora, Gutemberg, Lea e Raimundo, em nome de todos.
SOBRE O AUTOR
BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004).
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