Assim procedia se fossem Jacarés ou Onças
todos os bichos se acalmaram. Nós ficávamos todos impressionados com a
sabedoria, a coragem e o modo como aquele homem analfabeto, conseguira ser tão
íntimo da Natureza, das suas criaturas, e discipliná-los tal qual um
especialista ou realmente um ser orientado por uma divindade.
Colhidos os
frutos, era hora de pensarmos na volta para a Casinha simples do nosso amigo e
hospitaleiro Caçador. Ele nos apontava o local seguro para nós ficarmos sem a
presença dele e nos dizia com uma certeza absoluta: cêiz fícum AQUÍ e num Siafáxtim,
que eu Rô arrumá um um bíxo pá NÓIZ
almuçá !
Ficamos aguardando
a volta do nosso amigo para sabermos que animal ele traria para o almoço,
certos de que não falharia. Um tatu, um mambira, um veado, uma paca, uma cotia,
um jacu, uma nambu, o almoço estava garantido. Uma vez ele pegou um Tatupeba
grande e um Macaco vivo e perguntou-nos, para mim e para o meu irmão Wilson,
quase sempre estávamos juntos: cêiz quérim prová carne de Macaco, é múntu da bôa! Recusamos, assustados, ao
sentirmos tristeza no semblante do macaco que parecia implorar socorro. Ele
percebeu a nossa piedade com aquela vítima e fez uma segunda proposta, levarmos
o macaco prego para criarmos. Aceitamos sem discutirmos e ele nos deu
orientações valiosas para domarmos a criaturinha simpática. Imaginando que não
poderíamos contar com a aprovação imediata de Papai e de Mamãe, mas mantivemos
a confirmação do Aceite. Depois de saborearmos o Tatu preparado no leite de
Coco babaçu pela dona Alzemira, mulher do nosso amigo, seguimos a viagem de
volta a Laranjeiras, levando um pouco de farofa da caça para casa e o nosso
futuro amigo acomodado num cofo de palhas de pindoba, fabricação de João
Bigode, que era também artesão. O bichinho demonstrava ALEGRIA ao receber os nossos
medrosos carinhos.
Chegamos a casa
com Cocalino e tivemos uma grata surpresa, Papai e Mamãe não nos recriminaram,
apenas observaram que teríamos dificuldades com a alimentação e a moradia dele.
Informamos que João Bigode nos dera as instruções sobre todos os cuidados com o
nosso engraçado vivente. Sobre a residência dele, imediatamente fomos falar com
o seu Zacaria Cassiano, um artista artesão de mão cheia, como era conhecido,
nosso vizinho e também amigo, esposo da nossa tia Diquinha e ele muito prestativo
começou logo a construir a casa de Cocalino, de tábuas de pequizeiro bem trabalhadas,
que depois de pronta recebeu uma cama de pano, aprovada sem reclamação pelo
morador ilustre. Dormia cedo da noite e acordava cedo da manhã, junto com as
galinhas, como nos alertara João Bigode, que todas as vezes que vinha fazer
compras na Quitanda de Papai, sempre o visitava relembrando o episódio da sua
aquisição, elogiava a nossa ação e recebia de agrado, um pedaço de fumo baiano
e uma rapadura, que ele tanto gostava. Em uma dessas visitas nos convidou para
irmos dormir uma noite em sua casa para ouvirmos suas ixtóras cantadas, cujo convite foi aceito com muito interesse.
Marcamos a ida em uma sexta-feira com a aquiescência de Papai e de Mamãe e no
dia combinado, fomos levando redes, lençóis, pijamas, o pedaço de fumo e a
rapadura, o presente que ele mais gostava de receber. Naquele dia ele alertou a
sua esposa Zimira para servir o jantar mais cedo, duas Nambus fritas no azeite
de babaçu com baião de dois, uma delícia. Após o jantar, já às sete horas da
noite, João Bigode inicia a sua apresentação cantada, sobre um Cavalo alforriado
do trabalho pesado, por idade. Teria este recebido a missão de expulsar uma
família de macacos que estava roubando milho, melancia, macaxeira e feijão da
roça de um fazendeiro, tendo o Cavalo se transformado numa armadilha de cordas
amarradas as suas patas e deixado no meio da roça fingindo-se de morto. Os
macacos chegaram para praticarem o roubo no horário costumeiro e vendo o Cavalo
deitado, inerte, pensaram que ele estava morto. Resolveram então, orientados
pelo chefe da família se amarrarem nas cordas que serviam de armadilhas, para
tirarem o morto de dentro das plantações. Todos amarrados, foram surpreendidos
com o Cavalo se levantando e correndo com eles presos às cordas, um desespero
para a macacada. Começa finalmente esta IXTÓRA
cantada. João Bigode termina de fumar um cigarro, afina a voz com um gargarejo
de tiquira e inicia assim:
Éra
um Carrálo réeee, Quí num prextava mais
pá trabaiá Tirô cárta de furría, Pá matá a maxacaríia O Carrálo réeea cumeça
Corrêeeee , Xóru macaco Juãou Pái cigura o Carrálo aí adiênti Quí um páu quebrô
min-á mãoú Grita o macaco Juáquim Pái cigúru o Carrálo aí adiênti Quí um páu
quebrô meu fucim...
Segue a ixtóra cantada e em poesia nessa rima de
João Bigodi, até serem quebrados todos os macacos ladrões. O Cavalo se transformou
em um herói dos Cavalos e do fazendeiro. Nós aplaudimos o amigo João Bigode lá
pelo cantar do galo, às três horas da madrugada deixando-o satisfeito como
contador de histórias cantadas em versos. Retornamos para Laranjeiras encantados
com mais esta proeza do nosso amigo.
Cocalino viveu conosco por dez anos e morreu
saudável, um idoso, considerando-se que um Macaco vive, segundo estudiosos, em
média trinta anos. O nosso místico amigo
João Bigode continuou morando na localidade Cocal e participando da nossa vida,
nos nossos períodos de férias escolares até quando a minha Tia Geninha vendeu a
propriedade, dando-lhe uma compensação financeira merecida pela sua honesta
administração, com a qual, já viúvo, os filhos todos independentes e casados,
comprou uma casa no Povoado Palestina, onde viveu seus últimos dias, falecendo
há quinze anos, deixando-nos muita SAUDADE,
uma valiosa e inesquecível história, além de uma lição vida preciosa.
SOBRE O AUTOR
É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti.
Gente alguém sabe do dinheiro do mês de dezembro do pessoal da saúde ??
ResponderExcluirSerá se ainda vamos receber o salário de dezembro ? 2020
ResponderExcluirVAO COBRAR O ARNALDO. ELE QUE FICOU COM O DINHEIRO QUE FICOU NA PREFEITURA.
ResponderExcluirTá aí uma ótima resposta! Concordo plenamente!
ResponderExcluirGente isso é sério estamos aguardando saber desse salário de dezembro de 2020 e até agora nenhuma resposta de nada, alguém sabe ????
ResponderExcluirAliandro por favor nos dê uma resposta sobre esse salário de dezembro de 2020 vamos receber ???
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