Uma
vez, ele se juntou com o meu irmão Adail, o mais velho dos meus irmãos, que
estava de férias e com o senhor Clemente, um lavrador da sua turma, propôs um
pacto, nos seguintes termos: Quelemente, nóz râmus cum u cumpádi Adail cumê
um-a leitôa na casa da cumade Telina. U cumpádi Adail é u Sin-ô (Jesus Cristo),
êu sô u Júan-u (João Batista) i tú é o Pêdu (São Pedro). Tu tem coidado pá nun
sí metê a bexta cun u Sin-ô! Adail pegou dois litros de tiquira da pipa, duas
carteiras de cigarros Continental, uma caixa de fósforos, dois pedaços de fumo
Arapiraca, um para Zé Loura e outro para seu Clemente e rumaram para o almoço
na casa da dona Otelina, amiga de todos da região, muito bonita, a anfitriã,
que também era boa na pinga. Começaram a beber, a conversar e a cantar alegremente.
Seu Clemente já mais alto do que o Sete Estrelas, começou a ser polêmico em
tudo, o que Adail, aliás o Sin-ô, dizia e este discordava e o corrigia,
enquanto Zé Loura, o João alertava o seu Clemente, o Pedro. Óia Pêduu, rezpêita
o Sin-ô, tiáçucéga!
Após
muita tiquira, muita conversa e muita cantiga, o Sin-ô perdeu a calma e deu um
Tapa no Pédu, que caiu embaixo da mesa e Zé Loura, o João, passou a julgar a
causa, pedindo para encerrar o entrevero: Êu tidixee Pédu, tú num pódi cum o
Sin-ô, ele tem Pudê, ele é ú Sin- ô i agora Tú tem di tiarrependê i vâmu ficá a
mêrma famía di amígus quí sêmpi fúmu! Conciliação conseguida, tomaram água do
pote de barro mais frio da amiga Telina e foi desfeito o apostolado Santo
naquele momento, no entanto a associação tiquiral, continuou com vínculos
mantidos. Depois desse episódio, Zé Loura prosseguiu a sua caminhada sábia e pacifista,
alegrando a todas as comunidades a que pertencia e era muito querido e
respeitado por todos. Chegou o período das Santas Missões da Igreja Católica em
Buriti e Zé Loura pediu a meu Pai que comprasse um corte de brim coringa para
fazer um lifórmi pra ele, a fim de que pudesse participar bem apresentado, na
missa final do movimento missionário da nossa terra. Foi atendido e o cumpádi Jaime pagou o feitio
do seu uniforme. No dia da missa final, ele preparou o seu burro de cela e
seguiu para a Cidade objetivando cumprir o seu compromisso religioso, com muita
FÉ na mente, na alma e no coração. Chegou cedo à igreja depois de ter deixado o
seu burro no quintal da casa do meu avô, o Capitão Pio. Conseguiu um dos
lugares da oitava fila de bancos na sequência frente do altar de Sant'Ana com
direção à porta central da Matriz. Excelente posição pra ver o Sin-ô Bispu bem
de perto. Missa realizada, fila formada pelos fiéis para beijarem o Anel do
Reverendíssimo Senhor Bispo Diocesano. Zé Loura era um deles e alcançou a graça
de ter feito parte dos eleitos, brijou com todo o respeito e reverência, o Anel
do Bispo. Muito feliz, foi buscar o seu burro para a viagem de volta a
Laranjeiras. Ao passar na rua Coronel Lago, foi surpreendido pelo forte grito
de um Coronel, também de patente comprada, tentando humilhar o nosso sábio
Caboclo Zé Loura: cheirou o Cu do Bispo, Caboclo? Ele, com toda paciência,
tirou o chapéu de massa da sua cabeça e fazendo um aceno respeitoso ao seu
pretenso algoz respondendo, Nhôr nã-u Coronéé, eu só beijêêéie o Anel, o Cu é
só mêrmu pá Vóiz Mincê quí é Rícuuu,
botou novamente o chapéu na cabeça e seguiu cantarolando o hino sacro, êu cúnfíu in nossu Sin- ô, cún fé isperânça i
Amôô até chegar na sua humilde e honrada
CASA. O Coronel não teve um dia Alegre e nem Feliz.
Zé
Loura, faleceu aos oitenta e três anos bem vividos, cercado de amigos e amigas
de toda a região onde morou, foi útil e deixou ensinamentos, bondade e muita
SAUDADE.
SOBRE O AUTOR
É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti.
Amigo Djalma, uma sugestão: suas narrativas são maravilhosas, mas tente construir o texto com parágrafos menores. O período muito longo torna a leitura cansativa. Espero ter contribuído. Um abraço.
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