Coluna SEXTA DE NARRATIVAS - ASSIS VERAS, UM PARCEIRO

FRANCISCO DE ASSIS VERAS, meu colega de Turma no Grupo Escolar Antonio Faria que com o passar dos dias, nos tornamos AMIGOS e descobrimos vários elos que tornavam a nossa AMIZADE cada vez mais prazerosa.

Minha tia Geninha, que possuía muitos afilhados e afilhadas e consequentemente muitos compadres e comadres, era também comadre do Senhor Vitorino Veras e dona Euzébia, conhecida em Buriti inteira por dona Euzebinha

Seu Vitorino era profissional Sapateiro dos bons, pois além de consertar sapatos, alpercatas e chinelos, fabricava tamancos e os reforçava com um solado de pneu como ele dizia orgulhoso, se os fregueses pedissem!

Completando não apenas o elo, e sim uma corrente, a dona Toinha, mãe de dona Euzebinha e avó de Assis, era Costureira de mão cheia, segundo as buritienses suas amigas.

Muitas vezes o Seu Vitoriano consertou os meus sapatos, os de Wilson, meu irmão, os dos meus primos e outras vezes reforçou os nossos tamancos, para durarem mais, segundo a minha Avó materna, economista e pedagoga semianalfabeta, com dois diplomas de pós, um Chiquerador e uma Palmatória daquelas com um furo no centro, para melhor a compreensão das lições de VIDA que nos ministrava, dentre as quais respeitar as professoras, os mais velhos, amar PAI e Mãe, se achasse alguma coisa não tomasse posse e a apresentasse aos pais, para que procurassem quem a havia perdido, lições valiosas, que ainda hoje eu as preservou e prático. Dona Toinha confeccionou pelo menos quatro fardas escolares para nós, eu e o meu irmão, calças curtas, pois as demais roupas eram a cargo do também famoso Alfaiate NINÍ.

Amizade consolidada, eu e ASSIS nos tornamos parceiros nas brincadeiras na Praça, com rodas de aro de bicicletas imprestáveis e pinches, tampinhas de latas de querosene, que eu adquiria dos comércios do meu Pai e o do meu Avô. Éramos parceiros também na Lanchonete do seu Raimundo Suzana, na verdade, uma Garapeira (engenhoca manual) e uma lata de querosene vazia, higienizada com água do TUBY, onde eram depositados os melhores Pães Massa Fina, que eu saboreei, com um Copo de Garapa legítima de cana Caiana docinha, uma delícia.

Eu bancava a despesa, com uma nota amarelinha de dois cruzeiros, que o meu pai me dava para gastos do mês, com merendas, embora a minha Avozinha reclamasse que era dinheiro demais na mão de um menino, um desperdício. E assim seguíamos nós, eu e ASIS. Vivemos esta parceria de muitas aventuras de crianças durante os cinco anos de Grupo Escolar. Separamo-nos ao final do Curso Primário.

Voltei sempre de São Luís, onde fui complementar a minha formação educacional e depois de profissionalizar - me continuei participando da vida da nossa cidade e era muito difícil não me encontrar com o meu amigo.

Um dia de outubro, eu o encontrei sentado à porta da sua residência, acompanhado da sua irmã Hélia, que nos acostumamos a chamá-la de Helinha, sentados um ao lado do outro, tristes, ambos com as pernas Amputadas, vítimas de diabetes.

Tentei e conseguir reanimá-los, dei-lhes uma pequena ajuda, gesto que havia se tornado comum há bastante tempo e ele reagia sempre com muita gratidão.

O tempo seguia o seu ritmo e por um período razoável, quando as vezes eu me distraia ao seguir para o Fórum buritiense, ouvia a voz dele: doutor Djalmaaaa! Eu ia ao seu encontro para uma conversa GOSTOSA lembrando o nosso tempo de garotos sadios e FELIZES. Eu o repreendia com carinho, para que me tratasse pelo nome normal, considerando que éramos Amigos, e ele se desculpava dizendo: está bem meu amigo Doutor Djalma!

Poucos anos se passaram até que um dia, eu fazendo o mesmo percurso, voltei-me para o nosso ponto de encontro e o encontrei vazio e silencioso. Imaginei que ele estivesse atrasado, já que sempre estava ali, cedo. Dirigi-me ao local, aproximei-me da porta da sua casa e perguntei por ele. A pessoa que me atendeu fez uma Longa pausa e disse-me: ELE MORREU no mês passado. Agradeci e retornei à Pousada em que era hóspede, para dar vasão às lágrimas e me recompor para ir ao FÓRUM.

Encerrava-se ali, o último e mais penoso capítulo da história de uma Grande e imorredoura AMIZADE. Meu amigo FRANCISCO DE ASSIS VERAS. Ainda carrego comigo todas as nossas lembranças principalmente aquelas suas Gargalhadas, que só Você sabia: RSSSSSSSSS! Agradecido por todas elas e pela sua lealdade, eu o Premio com o Diploma de PARCEIRO FIEL E IMORTAL!

SOBRE O AUTOR

É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti.

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