Coluna SEXTA DE NARRATIVAS - ZEBUTUTU, O EXALTADOR DE ALMA PENADA

 

José Miguel Divino, um rapaz de 17 anos na época, filho do meu amigo CHIQUETA, morador no Povoado Laranjeiras e muito conhecido nos povoados Espingarda, Areia, Engenho Velho, Capão, Carranca e outros adjacentes, era metido a Esperto, como diziam os que o conheciam. Sendo o filho homem mais velho, era sempre a companhia do seu Pai nas pescarias realizadas no nosso belo Rio Preto e Lagoas da região, muitas vezes no horário noturno, munidos de cofos de palha da palmeira ou de pindoba do babaçu, de facão e de faca.

Quase sempre conseguiam encher seus vasilhames artesanais e retornavam para casa nas madrugadas e ainda antes do amanhecer já havia, com ajuda dos outros filhos e da mulher, tratado de todos os peixes trazido para alimentação da família. Também ocorria não serem bem-sucedidos na pescaria, isto é, pegavam poucos peixes e pequenos.

Uma certa noite, depois de muito lançarem a tarrafa na água, perceberam não ser a noite do pescador, mas do peixe, como costuma acontecer com o caçador. Então o astucioso ZEBUTUTU lembrou ao seu pai, que a Lagoa na propriedade do senhor Manduca, no Povoado Engenho Velho, bem preservada deveria estar cheia de peixes graúdos e com umas duas ou três tarrafeadas poderiam salvar a noite de pescaria.  

Meu amigo CHIQUETA aprovou a ideia e em seguida rumaram para a Lagoa sugerida. No primeiro lance, ou na primeira tarrafeada, a ALEGRIA dos dois, a tarrafa voltou cheia de peixes grandes e de vários tipos, Curimatás, Piaus, Mandis, Lopes, Lubaranas, uma maravilha. Empolgados relançaram a tarrafa por mais duas vezes e o resultado se repetiu e incontidos, queriam muito mais. Era muito peixe e muito fácil a captura deles.

Naquele momento, quando ZEBUTUTU arremessou a tarrafa, apareceu um Clarão no meio da Lagoa vindo de uma lamparina a querosene, iluminação da época, de dentro de uma Cabaça, que eles atordoados, viam uma Cabeça humana cheia de fogo. Apavoraram - se os dois por um segundo, no entanto ZEBUTUTU tentou acalmar o pai, dizendo: meu PAIZÍM, NÚM TÉM-A MÊDU NÄN-U, QUÍ ÉR ÚM-A ÁUMA, MARRÊU RÔU IZAUTÁ ÉLA, e começou o seu ritual: QUÉÉÉM ÉR QUIPÓDI MÁIZ DI QUI DÊÉÉUS? Vindo da direção da Cabeça luminosa, na verdade da Cabaça, ouviram uma voz a responder: um LADRÃO SAFADO que vem roubar os peixes de uma Lagoa alheia, seu Cretino, e em seguida um tiro de espingarda bate bucha iluminou mais perto deles.

Começaram a correr os dois, com o Cofo e a tarrafa cheios de peixes, no entanto esqueceram as Pracatas - alpercatas de couro cru, que ficaram na beira da Lagoa. A alma que quase foi Exaltada eram o Senhor Manduca, proprietário da Terra e da Lagoa e o seu filho Santinho, conhecido como SANTIM DO MANDUCA, que no dia seguinte mandaram deixar as Pracatas dos dois exímios pescadores em sua casa.

Esta história real e muito engraçada, tomou conta das conversas nos terreiros da minha LARANJEIRAS AMADA, e se transformou em brincadeira de roda e Folclore da nossa região, que os dois pescadores absorveram como um ato heroico, dizendo que só praticaram aquele Emprestimozinho, para punir seu Manduca por ele ser muito SOVINA.

Meu caro conterrâneo ZEBUTUTU, JOSÉ MIGUEL DIVINO, Por VOCÊ morar na minha memória e na memória de todos os nossos conterrâneos da nossa região e fazer parte da História da nossa Buriti querida,  eu o Distingo com orgulho, com o Título Simbólico de O MAIOR EXALTADOR DE ALMA LARANJEIRENSE!

SOBRE O AUTOR

É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti.

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