Coluna SIM, É O BENEDITO - CANTOS DISPERSOS: A sustentabilidade da ABALC

        A sustentabilidade da ABALC

         Em sua apreciada coluna “Sexta de Narrativas”, edição do dia 24.3.2023, publicada no “Correio Buritiense”, o confrade Djalma Passos abordou o interessante tema relacionado com os idosos, sob o título “Eu e os idosos da ABALC não obsoletos”. O texto faz referências às confreiras Regina Helena Faria, Sofia Chagas, e aos confrade Raimundo Marques e Benedito Marques. De minha parte, agradeço a lisonja.

         Ao meu sentir, o talentoso articulista não fez mal, até porque situa os nominados na categoria de intelectuais ativos, a despeito das idades. O assunto, todavia, merece atenção mais profunda, na perspectiva da sobrevivência da novel academia, criada há pouco mais de três anos (30.11.2019). Ao que sei, ainda não completou o seu quadro, previsto para 40 cadeiras, conforme o seu Estatuto.

         Para além dessa situação – espero que seja apenas temporária -, preocupa-me a sustentabilidade do Sodalício. Há que se ter em linha de consideração que cada membro da entidade tem o seu patrono ou patronesse, o que significa que dois nomes de buritienses ocupam espaço na configuração do quadro, os quais devem reunir condições estabelecidas na linha da imortalidade formal.

         Nessa reflexão aparentemente despretensiosa, vem à tona a sucessão dos atuais ocupantes das cadeiras já preenchidas e o preenchimento das ociosas, com nomes que satisfaçam os requisitos preconizados no artigo 6° do já referenciado Estatuto que rege a vida da ABALC. Não se pode abstrair a compreensão de que a “imortalidade” que cada componente do corpo ostenta não é a sua vida física, mas as suas obras deixadas, em qualquer das áreas de abrangência do objeto da Academia: artes, letras e ciências.

         Estive em Buriti, recentemente, mais precisamente nos dias 11 a 13 deste mês de março. Além de receber as insígnias da ABALC, em inédita sessão especial realizada no povoado Barro Branco, onde nasci, fiz lançamento do meu 15º livro, intitulado “Nos caminhos e trilhas”, no qual faço registros de minhas conquistas em 50 anos de residência em Goiânia (Goiás). Também visitei o Complexo Educacional Carmem Costa para agradecer a realização do Projeto “Flores em Vida”, do qual faz parte uma encenação teatral com os próprios estudantes, focando a temática ambiental. As professoras Débora, Esterlane e Eliane adotaram o meu livro “Corrupião da Chapada” como fonte de inspiração revelando a talentosa estudante Adriele, que fez o papel do corrupião em extinção. Emocionei-me, deveras. Durante a visita de agradecimento, fiz uma palestra voltada para o incentivo aos professores e estudantes, para prosseguirem nos mesmos rumos. Aproveitei o ensejo não apenas para realçar o papel da ABALC no contexto cultural da cidade, mas também para motivar os professores daquele estabelecimento para prepararem futuros ocupantes das cadeiras vierem a ser disponibilizadas. Foi o começo de uma pregação que deve ser constante.

         Não tenho dúvidas de que essa preparação dos nossos sucessores na ABALC passa, necessariamente, pela juventude estudiosa de Buriti. Iniciativas como o auspicioso encontro promovido no bairro Bacuri, naquela promissora cidade, implementado no “Dia Mundial da Poesia” (21.3), pelo Serviço de Convivência e Fortalecimentos de Vínculos (SCFV), merecem aplausos – e mais que isso -, incentivo e participação efetiva dos intelectuais de nossa terra.

         O que se coloca em pauta, nesse contexto, é a uma proposta de flexibilização das regras de acesso ao quadro da ABALC. Na minha visão otimista, o pragmatismo recomenda a alteração estatutária, precipuamente, no artigo 6° do Estatuto, de modo a permitir o ingresso de parentes até o 4º grau, na linha reta ou transversal, de acordo com o Código Civil Brasileiro, admitindo candidaturas de parentes dos atuais membros, desde que preencham os requisitos básicos de produção de trabalhos nas três áreas de atuação da entidade, submetidos a uma criteriosa avaliação. A flexibilização que proponho não retira a excelência do corpo constituído, nem significa o afrouxamento das condições de acesso ao Sodalício. Ao contrário, visa ao fortalecimento das fileiras existentes, com o despertar de talentos emergentes, forjados em Universidades e Centros Culturais. Os avanços tecnológicos que se acentuam dia-a-dia favorecem a comunicação veloz e integrativa, bem como a absorção de conhecimentos mais velozes, geradores novos artistas, literatos e cientistas. Na minha concepção, as academias desse feitio, em pleno Século 21, não podem ser classificadas como agrupamento intelectual fechado ou elitizado. Ao revés, devem ser dinâmicas, acompanhando a evolução dos meios de expansão cultural nos seus mais diferentes ângulos. Uma academia de artes, letras e ciências, como a nossa ABALC, abomina o imobilismo inconsequente e repudia a extravagante ideia de bolha impenetrável. Assim é e há de ser, sempre, enquanto tiver, em seu comando, um Presidente e uma Diretoria compromissados com a afirmação e com o melhor porvir da jovem academia, que já se faz respeitada em nossa terra e em outras urbes, a merecer moção de aplausos da Câmara Municipal de Buriti.

         O meu agora é o futuro que me resta” (autor desconhecido)


SOBRE O AUTOR

BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Comercial, atuando principalmente nos seguintes temas: direito agrário, reforma agrária, função social, contratos agrários e princípios constitucionais.NA Universidade Federal de Goiás, foi Vice-reitor, Coordenador do Curso de Mestrado em Direito Agrário e Diretor da Faculdade de Direito. Na Carreira de magistério, foi professor de Português no Ensino Médio; no Ensino Superior foi professor de Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial, sendo que, de 1976 a 1984, foi professor de Direito Civil na PUC de Goiás. Acompanhou pesquisas, participou de inúmeras bancas examinadoras de mestrado, autor de muitos artigos, textos em jornais, trabalhos publicados em anais de congressos, além de já ter publicado 12 livros, entre eles “A Guerra da Balaiada, à luz do direito”, “Marcas do Passado”, “Direito Agrário para Concursos”; e “Cambica de Buriti”; entre outros. 

Comentários

  1. Excelente temática e excelente texto. Um texto assim, com essa clareza, com essa correção, com esse vocabulário, com essa profundidade é muito digno de ser trabalhado em nossas salas de aula. Assim, os idosos da academia estarão contribuindo para que surjam os seus próprios substitutos. Parabéns Dr Benedito.

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