Pular para o conteúdo principal

GUARDA CIVIL É INDICIADO POR HOMICÍDIO QUALIFICADO EM BURITI-MA

Investigação Policial aponta histórico de conflitos e comportamento agressivo do acusado

O caso que chocou a população de Buriti, no Maranhão, ganhou novos contornos após a conclusão das investigações da Polícia Civil. O Guarda Civil Municipal que atirou e matou o Secretário Municipal de Infraestrutura, Antônio José Ferreira da Silva, conhecido como "Toinho Francês", no dia 14 de agosto de 2025, em plena luz do dia e próximo ao Hospital Municipal, foi indiciado por homicídio qualificado.

O QUE ACONTECEU

Na manhã do crime, o Guarda Civil estava em serviço extra no hospital quando deixou seu posto para realizar fiscalização de trânsito na Avenida lateral ao nosocômio – função que não lhe cabia naquele momento. Por volta das 9h40, o secretário municipal saía de um posto de combustível próximo e fez uma pequena conversão em contramão na Avenida Candoca Machado, em baixa velocidade.
O Guarda correu atravessando a via, interceptou a motocicleta do secretário e tentou retirar a chave do veículo por duas vezes, sem êxito. Em seguida, desferiu um tapa no rosto do gestor, que revidou. Foi nesse momento que o agente sacou a pistola .40 e disparou um único tiro, fatal, contra “Toinho Francês”.

VÍTIMA ESTAVA DESARMADA

Segundo todas as testemunhas ouvidas pela Polícia, o secretário municipal estava completamente desarmado durante todo o episódio. O Guarda, além da pistola calibre .40, também portava um cassetete (tonfa), que poderia ter sido usado como alternativa não-letal se houvesse realmente necessidade de usar força.

“A investigação mostrou que ele tinha outras opções além da arma de fogo, mas optou diretamente pela força letal após receber apenas um tapa”, explicou uma fonte da investigação.

 HISTÓRICO DE CONFLITOS

As investigações revelaram que a relação entre vítima e acusado já era marcada por atritos. No dia anterior ao crime, o Guarda teria demonstrado irritação com questões envolvendo combustível, chegando a dizer que “queria pegar é da mão do Toinho Francês”, segundo fonte da investigação ouvida pelo CORREIO BURITIENSE.

Colegas da corporação relataram ainda que o investigado tinha um histórico de comportamento agressivo, inclusive episódios anteriores em que fez menção de sacar sua arma de fogo na sede da Guarda Civil Municipal, durante um desentendimento com um colega, sendo contido por outros Guardas. Há ainda relatos de que o investigado teria ido as vias de fato com outro colega na sede da corporação azul-marinho.

AS INVESTIGAÇÕES

A Polícia Civil conduziu uma investigação completa, ouvindo diversas testemunhas que presenciaram o crime. Todas as versões foram convergentes: o Guarda deu o primeiro tapa, o secretário revidou, e em seguida veio o disparo fatal.

Confirmou-se que o disparo foi dado com uma pistola calibre .40, de "uso restrito", segundo a classificação oficial. A arma foi apreendida com o guarda horas após o crime.

As imagens das câmeras de segurança da região foram de crucial importância para se estabelecer a dinâmica e as circunstância do crime. Essas imagens foram coletadas e encaminhadas à perícia forense.

INDICIAMENTO POR HOMICÍDIO QUALIFICADO

Após a conclusão dos trabalhos investigativos, a Polícia Civil indiciou o Guarda pela prática do crime de homicídio qualificado - a forma mais grave de assassinato prevista na lei brasileira.

As qualificadoras identificadas foram:

  Motivo fútil: A discussão começou por uma questão banal de trânsito e problemas burocráticos anteriores.

  Uso de recurso que dificultou a defesa: O guarda estava armado, fardado e em posição de autoridade, enquanto a vítima estava desarmada e foi surpreendida.

  Emprego de arma de fogo de uso restrito: A pistola utilizada é classificada como de uso restrito pela legislação.

O QUE DIZ A LEI

No Brasil, o homicídio qualificado pode resultar em pena de 12 a 30 anos de prisão. As qualificadoras tornam o crime mais grave porque demonstram maior perversidade ou reprovabilidade da conduta do autor.

O Delegado que presidiu a investigação destacou em seu relatório que o Guarda não seguiu os protocolos de uso progressivo da força. “Ele deveria ter usado uma progressão: primeiro a presença física, depois a verbalização, técnicas de imobilização, equipamentos não-letais como o cassetete, e só em último caso a arma de fogo”, explicou.

TRAMITAÇÃO NA JUSTIÇA

O Inquérito Policial foi concluído e enviado ao Poder Judiciário. Agora, o caso segue o rito normal da Justiça brasileira:

1. O juiz vai analisar a investigação e dar vista dos autos ao Ministério Público.

2. O Promotor vai estudar o caso e decidir se oferece denúncia (acusação formal) contra o Guarda ou se pede novas diligências à Polícia Civil.

3. Se for oferecida a denúncia, o juiz decide se aceita ou rejeita a acusação.

4. Sendo aceita, tem início o processo criminal com direito a ampla defesa e ao contraditório.

Durante todo este processo, o acusado tem direito a advogado e pode responder em liberdade ou preso, dependendo da decisão judicial.

IMPACTO NA COMUNIDADE

O caso causou grande comoção em Buriti, cidade de cerca de 30 mil habitantes. Antônio José Ferreira da Silva era conhecido na região e exercia função pública importante no município.

O episódio também levantou questionamentos sobre o treinamento dos Guardas Municipais, a legalidade de suas abordagens e os protocolos de uso da força por agentes de segurança pública.

A família da vítima aguarda que a Justiça seja feita e que o caso sirva de exemplo para evitar tragédias semelhantes no futuro.

POSSIBILIDADE DE OCORRÊNCIA DE OUTROS DELITOS

O Relatório Final do Inquérito Policial fez menção a instauração de um novo procedimento investigativo para apurar condutas remanescente não abarcadas pela investigação do homicídio, notadamente condutas do Guarda Civil por ocasião do trágico episódio que podem, em tese, configurar a prática de outros crimes como abuso de autoridade, fraude processual e vias de fato.

O investigado tem direito ao contraditório e à ampla defesa, sendo considerado inocente até decisão judicial final irrecorrível que o condene.


Comentários

  1. Assista e pause o vídeo. O guarda saca a arma antes de receber o tapa de Toinho. Ele saca a pistola exatamente quando Toinho desliga a moto e abaixa a cabeça para descer. O Toinho não vê, portanto, que está com a arma na mão. Revejam o vídeo pausadamente. Então, ele já estava com a arma na mão antes de receber o tapa.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem. Ofensas pessoais, mensagens preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, ou ainda acusações levianas não serão aceitas. O objetivo do painel de comentários é promover o debate mais livre possível, respeitando o mínimo de bom senso e civilidade. O Redator-Chefe deste CORREIO poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.

Postagens mais visitadas deste blog

URGENTE - OPERAÇÃO POLICIAL MIRA DESARTICULAÇÃO DE GRUPOS CRIMINOSOS EM BURITI-MA

  M andados de prisão e de busca e apreensão estão sendo cumpridos na cidade contra envolvidos em tráfico e homicídios.  Operação da Polícia Civil foi realizada em Buriti — Foto: Divulgação/Polícia Civil     Uma grande operação policial foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (5) em Buriti-MA, na região Leste do Maranhão. Sob o comando da Polícia Civil, a ação cumpre 24 mandados de prisão e de busca e apreensão, visando desarticular grupos suspeitos de tráfico de drogas, homicídios e outros crimes violentos que têm causado preocupação aos cerca de 30 mil moradores da cidade.     A operação se concentra em diversos pontos do município, com foco no povoado Poço Verde, onde foram apreendidos mais de R$ 50 mil e armas de fogo. Até o momento, duas prisões foram confirmadas.     A mobilização policial faz parte de um esforço coordenado para combater organizações criminosas que ameaçam a segurança pública local.      O impacto das ações...

VIOLÊNCIA SEM FREIO EM BURITI-MA: Empresário é morto em assalto e escancara a insegurança no município

   Buriti-MA amanheceu em luto e indignação após mais um crime brutal. Na noite de ontem, sexta-feira 31/1, o empresário Antônio Carlos de Oliveira da Costa, 47 anos, foi assassinado durante um assalto em sua residência, no povoado Bezerra. Ele estava com o filho quando dois criminosos armados invadiram a casa exigindo dinheiro. A vítima foi baleada e morreu após ser socorrida. Momento da chegada da vítima ao hospital municipal - Foto: Reprodução.    O crime expõe a crescente sensação de insegurança na cidade. A Polícia Militar foi acionada, mas as buscas até agora não localizaram os criminosos. A violência vem se tornando rotina em Buriti, sem uma resposta eficiente das autoridades.    É urgente que o município tenha uma Secretaria Municipal de Segurança Pública com orçamento próprio, capaz de articular políticas de prevenção e combate à criminalidade. Medidas como patrulhamento ostensivo, videomonitoramento e investimento em inteligência policial e na Gua...

VICE-PREFEITO DE BURITI-MA E ESPOSA SOFREM ACIDENTE NA MA-034

   Na tarde desta quarta-feira, 4 de dezembro, por volta das 14h30, o vice-prefeito de Buriti-MA, Jenilson Gouveia, e sua esposa, Shirlyane Gouveia, se envolveram em um acidente na rodovia MA-034. O veículo em que estavam saiu do asfalto e colidiu violentamente com um poste, derrubando-o. Os airbags do carro foram acionados, evitando ferimentos mais graves. Shirlyane sendo socorrida por populares.    Em conversa com o editor-chefe do Correio Buritiense, Shirlyane Gouveia confirmou o ocorrido e revelou que estava dirigindo o veículo no momento do acidente. Ela explicou que tentou desviar de um buraco na pista, mas perdeu o controle do carro, o que resultou na colisão. Shirlyane chegou a desmaiar devido ao impacto.    O casal foi socorrido e encaminhado para atendimento médico em Chapadinha. Após avaliação, ambos foram liberados e já se encontram em repouso em sua residência, sem ferimentos graves.    A situação reacende o alerta sobre as condições ...