GLOBO RECONHECE EM EDITORIAL, NO ÚLTIMO SÁBADO (31), QUE APOIO A NEFASTA DITADURA MILITAR DE 1964 FOI UM ERRO.
Ø As organizações sempre apoiaram
TODAS as intervenções militares e Golpes para tirar do poder líderes
trabalhistas. Sempre foi Golpista, desde Vargas.
Ø O Editorial saiu após conversa de um
dos donos da Globo com Lula em seu Instituto. Afirmam as más línguas que eles
disseram não suportar mais a Dilma. Eram felizes com Lula e não sabiam.
LEIA
ABAIXO, NA ÍNTEGRA, DO TEXTO DE O GLOBO:
APOIO EDITORIAL AO GOLPE DE 64
FOI UM ERRO
A consciência não é de hoje, vem de
discussões internas de anos, em que as Organizações Globo concluíram que, à luz
da História, o apoio se constituiu um equívoco.
Desde
as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou
a ditadura”. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de
uma verdade dura.
Já
há muitos anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à
luz da História, esse apoio foi um erro.
Há
alguns meses, quando o Memória estava sendo estruturado, decidiu-se que ele
seria uma excelente oportunidade para tornar pública essa avaliação interna. E
um texto com o reconhecimento desse erro foi escrito para ser publicado quando
o site ficasse pronto.
Não
lamentamos que essa publicação não tenha vindo antes da onda de manifestações,
como teria sido possível. Porque as ruas nos deram ainda mais certeza de que a
avaliação que se fazia internamente era correta e que o reconhecimento do erro,
necessário.
Governos
e instituições têm, de alguma forma, que responder ao clamor das ruas.
De
nossa parte, é o que fazemos agora, reafirmando nosso incondicional e perene
apego aos valores democráticos, ao reproduzir nesta página a íntegra do texto
sobre o tema que está no Memória, a partir de hoje no ar:
1964
“Diante
de qualquer reportagem ou editorial que lhes desagrade, é frequente que aqueles
que se sintam contrariados lembrem que O GLOBO apoiou editorialmente o golpe
militar de 1964.
A
lembrança é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É
História. O GLOBO, de fato, à época, concordou com a intervenção dos militares,
ao lado de outros grandes jornais, como “O Estado de S.Paulo”, “Folha de S.
Paulo”, “Jornal do Brasil” e o “Correio da Manhã”, para citar apenas alguns.
Fez o mesmo parcela importante da população, um apoio expresso em manifestações
e passeatas organizadas em Rio, São Paulo e outras capitais.
Naqueles
instantes, justificavam a intervenção dos militares pelo temor de um outro
golpe, a ser desfechado pelo presidente João Goulart, com amplo apoio de
sindicatos — Jango era criticado por tentar instalar uma “república sindical” —
e de alguns segmentos das Forças Armadas.
Na
noite de 31 de março de 1964, por sinal, O GLOBO foi invadido por fuzileiros
navais comandados pelo Almirante Cândido Aragão, do “dispositivo militar” de
Jango, como se dizia na época. O jornal não pôde circular em 1º de abril.
Sairia no dia seguinte, 2, quinta-feira, com o editorial impedido de ser
impresso pelo almirante, “A decisão da Pátria”. Na primeira página, um novo
editorial: “Ressurge a Democracia”.
A
divisão ideológica do mundo na Guerra Fria, entre Leste e Oeste, comunistas e
capitalistas, se reproduzia, em maior ou menor medida, em cada país. No Brasil,
ela era aguçada e aprofundada pela radicalização de João Goulart, iniciada tão
logo conseguiu, em janeiro de 1963, por meio de plebiscito, revogar o
parlamentarismo, a saída negociada para que ele, vice, pudesse assumir na renúncia
do presidente Jânio Quadros. Obteve, então, os poderes plenos do
presidencialismo. Transferir parcela substancial do poder do Executivo ao
Congresso havia sido condição exigida pelos militares para a posse de Jango, um
dos herdeiros do trabalhismo varguista. Naquele tempo, votava-se no
vice-presidente separadamente. Daí o resultado de uma combinação ideológica
contraditória e fonte permanente de tensões: o presidente da UDN e o vice do
PTB. A renúncia de Jânio acendeu o rastilho da crise institucional.
A
situação política da época se radicalizou, principalmente quando Jango e os
militares mais próximos a ele ameaçavam atropelar Congresso e Justiça para
fazer reformas de “base” “na lei ou na marra”. Os quartéis ficaram intoxicados
com a luta política, à esquerda e à direita. Veio, então, o movimento dos
sargentos, liderado por marinheiros — Cabo Ancelmo à frente —, a hierarquia
militar começou a ser quebrada e o oficialato reagiu.
Naquele
contexto, o golpe, chamado de “Revolução”, termo adotado pelo GLOBO durante
muito tempo, era visto pelo jornal como a única alternativa para manter no
Brasil uma democracia. Os militares prometiam uma intervenção passageira,
cirúrgica. Na justificativa das Forças Armadas para a sua intervenção,
ultrapassado o perigo de um golpe à esquerda, o poder voltaria aos civis. Tanto
que, como prometido, foram mantidas, num primeiro momento, as eleições
presidenciais de 1966.
O
desenrolar da “revolução” é conhecido. Não houve as eleições. Os militares
ficaram no poder 21 anos, até saírem em 1985, com a posse de José Sarney, vice
do presidente Tancredo Neves, eleito ainda pelo voto indireto, falecido antes
de receber a faixa.
No
ano em que o movimento dos militares completou duas décadas, em 1984, Roberto
Marinho publicou editorial assinado na primeira página. Trata-se de um
documento revelador. Nele, ressaltava a atitude de Geisel, em 13 de outubro de
1978, que extinguiu todos os atos institucionais, o principal deles o AI5,
restabeleceu o habeas corpus e a independência da magistratura e revogou o
Decreto-Lei 477, base das intervenções do regime no meio universitário.
Destacava
também os avanços econômicos obtidos naqueles vinte anos, mas, ao justificar
sua adesão aos militares em 1964, deixava clara a sua crença de que a
intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para
conter a irrupção da guerrilha urbana. E, ainda, revelava que a relação de
apoio editorial ao regime, embora duradoura, não fora todo o tempo tranquila.
Nas palavras dele: “Temos permanecido fiéis aos seus objetivos [da revolução],
embora conflitando em várias oportunidades com aqueles que pretenderam assumir
a autoria do processo revolucionário, esquecendo-se de que os acontecimentos se
iniciaram, como reconheceu o marechal Costa e Silva, ‘por exigência inelutável
do povo brasileiro’. Sem povo, não haveria revolução, mas apenas um
‘pronunciamento’ ou ‘golpe’, com o qual não estaríamos solidários.”
Não
eram palavras vazias. Em todas as encruzilhadas institucionais por que passou o
país no período em que esteve à frente do jornal, Roberto Marinho sempre esteve
ao lado da legalidade. Cobrou de Getúlio uma constituinte que
institucionalizasse a Revolução de 30, foi contra o Estado Novo, apoiou com
vigor a Constituição de 1946 e defendeu a posse de Juscelino Kubistchek em
1955, quando esta fora questionada por setores civis e militares.
Durante
a ditadura de 1964, sempre se posicionou com firmeza contra a perseguição a
jornalistas de esquerda: como é notório, fez questão de abrigar muitos deles na
redação do GLOBO. São muitos e conhecidos os depoimentos que dão conta de que
ele fazia questão de acompanhar funcionários de O GLOBO chamados a depor:
acompanhava-os pessoalmente para evitar que desaparecessem. Instado algumas
vezes a dar a lista dos “comunistas” que trabalhavam no jornal, sempre se
negou, de maneira desafiadora.
Ficou
famosa a sua frase ao general Juracy Magalhães, ministro da Justiça do
presidente Castello Branco: “Cuide de seus comunistas, que eu cuido dos meus”.
Nos vinte anos durante os quais a ditadura perdurou, O GLOBO, nos períodos
agudos de crise, mesmo sem retirar o apoio aos militares, sempre cobrou deles o
restabelecimento, no menor prazo possível, da normalidade democrática.
Contextos
históricos são necessários na análise do posicionamento de pessoas e
instituições, mais ainda em rupturas institucionais. A História não é apenas
uma descrição de fatos, que se sucedem uns aos outros. Ela é o mais poderoso
instrumento de que o homem dispõe para seguir com segurança rumo ao futuro: aprende-se
com os erros cometidos e se enriquece ao reconhecê-los.
Os
homens e as instituições que viveram 1964 são, há muito, História, e devem ser
entendidos nessa perspectiva. O GLOBO não tem dúvidas de que o apoio a 1964
pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa,
visando ao bem do país.
À
luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente,
que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões
editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é
um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.”
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