Coluna ALÉM DO DIVÃ - CULTURA DO CONSUMO

   *Por Josealdo Silva- filósofo, psicólogo e psicanalista

CULTURA DO CONSUMO

Como podemos definir o termo consumo? Consumo significa utilizar, gastar, dar fim a algo, para alcançar determinado objetivo.  Segundo o filósofo Jean Baudrillard, o consumo baseia-se na "impossibilidade de que todos consumam".

De acordo com Baudrillard, o consumo funciona como uma forma de afirmar a diferença entre os indivíduos. Nas palavras do filósofo, o prazer de mudar de vestuário, de objetos, de carro, vem sancionar psicologicamente constrangimentos de diferenciação social e de prestígio. Nesse contexto, a sociedade seria uma grande mãe que supriria e daria " satisfação das necessidades" (em grande parte induzidas artificialmente pelo sistema midiático) que é funcional para a expansão do consumo e, portando, para o crescimento da sociedade consumista. Essa grande mãe que tem como seu primeiro objetivo manter o indivíduo vivo para estimular e satisfazer nele suas exigências de bens, alimentando ou amamentando, assim, o circuito da produção-consumo.

Entretanto, a " satisfação das necessidades" é uma orientação regressiva, porque remete a uma exigência psicofisiológica da primeira infância. Portando, a sociedade que vivemos é uma sociedade profundamente infantilizada. De certa forma, o consumismo crônico, impulsivo e repetitivamente compulsivo sempre estão ligados a uma tentativa do sujeito de preencher os vazios existenciais decorrentes da primitiva angústia de separação, a qual, na imensa maioria das vezes é consequência das sérias falhas ou faltas dos primitivos cuidados maternos ou paternos.

Em outras palavras, o consumidor age como se a sua felicidade consistisse, apenas, em uma questão de poder sobre "as coisas", ignorando assim o prazer obtido com aquilo que verdadeiramente ama. Para o filósofo alemão Max Horkheimer, "quanto mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as coisas, mas as coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais genuínos" (Eclipse da razão, p.14). Em outras palavras, o consumo deixar de ser um meio de expressão do prazer pessoal e transforma - se em um fim em si mesmo. Torna-se um ato obsessivo alimentado pelo apetite de novidade e de diferença ou distinção social.



SOBRE O AUTOR

JOSEALDO SOUSA SILVA, natural de Chapadinha/MA, é formado em Filosofia (UEMA), com licenciatura em Filosofia Cristã pela Faculdade Filadélfia (CE), e graduado em Psicologia (Faculdade Pitágoras), pós-graduado em Psicopedagogia Clínica (Faculdade FAMEP/IESF) e psicanalista praticante, membro da OrLa-Centro Psicanalítico do Maranhão.

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