Coluna SEXTA DE NARRATIVAS - MINHA PRIMEIRA COMUNHÃO E UM CARRO DE BOIS

 


A Época era das Santas Missões na minha Buriti querida, festa religiosa tradicional da nossa IGREJA CATÓLICA, na Paróquia de SANT 'ANA, Padroeira da cidade.

 

  A Casa Paroquial hospedava vários Padres, Freis Capuchinhos, Freiras e até o Bispo da Diocese Regional de Brejo. Muitas tarefas eram cometidas aos religiosos, todavia a principal delas em termos de Grandeza, que cabia aos missionários Padres e Freis, era receberem a CONFISSÃO dos paroquianos em geral, idosos, adultos jovens e até crianças.

 

 Eu, contava na naquele período, a avançada idade de DEZ ANOS e em que pesasse a minha alegria de participar daquele evento que envolvia toda a população, atormentava-me uma dúvida após ter recebido a certeza de que iria fazer a minha primeira Comunhão.

 

Recebi CONTENTE a doce DETERMINAÇÃO, de aprender todas as orações exigidas, para poder chegar aos pés dos confessores, dentre elas a principal, o ATO DE CONTRIÇÃO e, como tinha uma boa memória, logo o aprendi: "Senhor meu Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, Senhor e Redentor meu, por serdes Vós quem Sois,  sumamente bom e digno de ser amado e,  porque Vos amo e estimo, pesa-me Senhor,  de todo o meu coração, por Vos ter ofendido, por ter perdido o Céu e merecido o Inferno".

 

 Este final era a parte angustiante para o meu entendimento, para a minha compreensão de criança, porque eu buscava na minha pouca história de vida, em que dia, semana, mês ou ano e em que lugar eu teria ofendido algum dos membros da Santíssima Trindade e não encontrava essa transgressão.

 

Pedi explicações exatamente para minha querida, amada e inesquecível Mãe, que um pouco atônita, com o meu questionamento, em face da minha tenra idade, começou a tentar me esclarecer, com aquele carinho, que, ainda hoje me traz tanta saudade, pela pureza e doçura!

 

Meu filho, todo mundo tem pecado, desde os nossos primeiros pais Adão e Eva, que comeram uma fruta da árvore do Bem e do Mal e você já é um rapazinho, portanto deve se confessar! Aceitei a explicação, mas não fiquei tranquilo, porque, mesmo conhecendo só um pouco da história bíblica da maçã, conhecia a fruta maçã naquele tempo, só pela foto da macieira carregada e não entendia porque comer uma fruta tão gostosa poderia ser um pecado, principalmente confessar tal pecado!

Voltei a importunar minha linda Mãe, sobre o assunto, inclusive em relação ao pecado de Adão e Eva e, ela ficou vermelha igual a uma maçã, tossiu e, falou: diga que você se arrepende pelo pecado de Adão e Eva, pronto, estou ocupada agora! Fui consultar meu Pai, meu primeiro ídolo e ele me disse, você não tem pecado, vou falar com o padre amanhã.

 

 Minha Avó paterna, uma educadora familiar, muito CATÓLICA, ouviu o que meu Pai dissera e gritou: venha aqui meu neto!

Quero lhe ensinar o que deve dizer, diga que VOCÊ é malcriado, maltrata os animais, basta estes dois pecados! Aquela orientação complicou ainda mais o meu raciocínio.

 

Primeiro porque eu não era malcriado e segundo, porque NUNCA maltratei um animal, gostava, gosto e amo a todos, excetuando cobras,  das quais não gostava e até hoje não gosto nem de vê-las sequer em fotos coloridas. Ocorre, que eu queria participar daquele evento e resolvi seguir a orientação da minha Mãe. Já havia aprendido as orações, portanto iria confessar os pecados, que nunca os havia cometido, em respeito aos nossos primeiros pais.

 

 Chegou finalmente o grande dia em que o pecador DJALMA e outros da mesma idade, iriam limpar-se de suas pesadas culpas e voltarem a “merecer o Céu e se distanciarem do inferno”. Que euforia, mesmo consciente de que iria cometer o primeiro pecado, o da mentira, que também jamais o praticara! 

 

 Na véspera do grande dia estávamos no povoado Laranjeiras, meu TORRÃO Amado.  Meu Pai contratou o Carro de Bois do senhor José Basilano para nos transportar até o centro de Buriti, nos trazer de volta, e logo nos comunicou perguntando se eu havia gostado, recebendo como resposta um grito de GOSTEI MUITOO PAPAI !

Às três horas da madrugada eu já estava acordado e vestido especialmente para a grande cerimônia.

 

Ouvi o zunido harmonioso do Carro de Bois, na verdade uma música suavemente LINDA, ooon, ooon, uoon, uoon, in,in, in, ã,ã,ã,ã,  nin-õõô e parou na frente da nossa Casa.

 

O boiadeiro condutor, seu Tonim, acariciou os bois e pôs a escadinha para os passageiros subirem. Tudo era belo.

Rumamos para Buriti, ao som daquela orquestra incomparável e inconfundível, FELIZES.

Chegamos à Igreja no momento exato para as cerimônias do dia.

Morando próximo da Igreja Matriz, fui o terceiro da fila de confissão! Esperava-nos um Frei barbudo, e ao me aproximar do confessionário, ajoelhei-me muito contrito, para confessar o meu feíssimo pecado e, sem olhar para o confessor, ouvi-o dizer, reze um Pai nosso e uma Ave Maria e Deus vai lhe proteger! Eu, decepcionado, tentei falar e ele continuou, falando calmamente: criança não tem pecado, vá rezar, vá, vá e sorriu!

 Rezei e fui para o meu lugar no banco da família e, quando tentei falar, ouvi aquele “xiiiiiiiiii, não pode, você ainda vai receber JESUS CRISTO”. E novamente voltei a ter preocupação, agora em relação à Hóstia Consagrada, pois minha querida avó havia alertado a todos nós, que quem não confessasse todos os pecados, no momento em que o padre colocasse a Hóstia na boca do pecador MENTIROSO, ao invés de receber JESUS CRISTO, o Capeta é quem apareceria!

 

 O que fazer então, já que eu não tinha confessado nada? Chegou a hora da comunhão e uma Freira chamou todas as crianças, para o ato sagrado e eu, meio temeroso, ocupei lugar na fila depois do quinto, pra não cometer gafe e observar se todos iriam mesmo receber JESUS CRISTO.

 De mãos postas, aguardei a minha vez de receber o sacramento da minha PRIMEIRA COMUNHÃO, que alegria, quando senti, que o CRISTO JESUS, estava comigo, que eu realmente não era PECADOR!

O almoço naquele dia, em minha casa, foi o mais festivo e mais Santo de todos!

 

Depois das comemorações, voltamos no nosso CARRO DE BOIS, sob o comando do fiel Tonim que nos chamou com um Aboio sertanejo buritiense: ÔÔÔ, ÊÊÊ mêur Bôiiím, Rãmus Roltá Pár nóçaas cazím- as, Rocêíz rã-u cumê um Capunzíiiim, mêur Bichiíinz Bunitinz e Bonzín - us, ÔÔÔÔ - ÀÁÁH!

 

Jamais esqueci e jamais esquecerei a aquele dia.

Hoje, muitos anos se passaram e eu sou de fato um pecador CONFESSO, que continua crendo, confiando na Trindade Divina, na nossa Mãe Maria Santíssima e certo de que Aquele mesmo JESUS CRISTO, que eu recebi pela primeira vez continua comigo e eu com ELE.

SOBRE O AUTOR

É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti.

Comentários

  1. Djalma,boas lembranças primeira comunhão,Crisma,saudades de tudo daquela época....

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  2. Muito bom ler essas narrações que trazem tão viva memória de Buriti. Posso ver meu pai nelas!

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  3. Djalma, meu amigão, parabéns mais uma vez. Você foi eleito o nosso contador oficial de belíssimas histórias. Depois tente falar, por favor, sobre a usina que fornecia energia elétrica.

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  4. Esse governo do ARnaldo é o pior da história de buriti -ma . Com menos de dois meses já conseguiu mostrar sua incapacidade de administração.

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