A Época era das
Santas Missões na minha Buriti querida, festa religiosa tradicional da nossa
IGREJA CATÓLICA, na Paróquia de SANT 'ANA, Padroeira da cidade.
A Casa Paroquial hospedava vários Padres,
Freis Capuchinhos, Freiras e até o Bispo da Diocese Regional de Brejo. Muitas
tarefas eram cometidas aos religiosos, todavia a principal delas em termos de
Grandeza, que cabia aos missionários Padres e Freis, era receberem a CONFISSÃO
dos paroquianos em geral, idosos, adultos jovens e até crianças.
Eu, contava na naquele período, a avançada idade
de DEZ ANOS e em que pesasse a minha alegria de participar daquele evento que
envolvia toda a população, atormentava-me uma dúvida após ter recebido a
certeza de que iria fazer a minha primeira Comunhão.
Recebi CONTENTE a
doce DETERMINAÇÃO, de aprender todas as orações exigidas, para poder chegar aos
pés dos confessores, dentre elas a principal, o ATO DE CONTRIÇÃO e, como tinha uma
boa memória, logo o aprendi: "Senhor meu Jesus Cristo, Deus e Homem
verdadeiro, Senhor e Redentor meu, por serdes Vós quem Sois, sumamente bom e digno de ser amado e, porque Vos amo e estimo, pesa-me Senhor, de todo o meu coração, por Vos ter ofendido,
por ter perdido o Céu e merecido o Inferno".
Pedi explicações
exatamente para minha querida, amada e inesquecível Mãe, que um pouco atônita,
com o meu questionamento, em face da minha tenra idade, começou a tentar me
esclarecer, com aquele carinho, que, ainda hoje me traz tanta saudade, pela
pureza e doçura!
Meu filho, todo
mundo tem pecado, desde os nossos primeiros pais Adão e Eva, que comeram uma fruta
da árvore do Bem e do Mal e você já é um rapazinho, portanto deve se confessar!
Aceitei a explicação, mas não fiquei tranquilo, porque, mesmo conhecendo só um
pouco da história bíblica da maçã, conhecia a fruta maçã naquele tempo, só pela
foto da macieira carregada e não entendia porque comer uma fruta tão gostosa
poderia ser um pecado, principalmente confessar tal pecado!
Voltei a importunar minha linda Mãe, sobre o assunto, inclusive em relação ao pecado de Adão e Eva e, ela ficou vermelha igual a uma maçã, tossiu e, falou: diga que você se arrepende pelo pecado de Adão e Eva, pronto, estou ocupada agora! Fui consultar meu Pai, meu primeiro ídolo e ele me disse, você não tem pecado, vou falar com o padre amanhã.
Minha Avó paterna, uma educadora familiar, muito
CATÓLICA, ouviu o que meu Pai dissera e gritou: venha aqui meu neto!
Quero lhe ensinar
o que deve dizer, diga que VOCÊ é malcriado, maltrata os animais, basta estes
dois pecados! Aquela orientação complicou ainda mais o meu raciocínio.
Primeiro porque eu
não era malcriado e segundo, porque NUNCA maltratei um animal, gostava, gosto e
amo a todos, excetuando cobras, das
quais não gostava e até hoje não gosto nem de vê-las sequer em fotos coloridas.
Ocorre, que eu queria participar daquele evento e resolvi seguir a orientação
da minha Mãe. Já havia aprendido as orações, portanto iria confessar os
pecados, que nunca os havia cometido, em respeito aos nossos primeiros pais.
Na véspera do grande dia estávamos no povoado
Laranjeiras, meu TORRÃO Amado. Meu Pai
contratou o Carro de Bois do senhor José Basilano para nos transportar até o
centro de Buriti, nos trazer de volta, e logo nos comunicou perguntando se eu
havia gostado, recebendo como resposta um grito de GOSTEI MUITOO PAPAI !
Às três horas da
madrugada eu já estava acordado e vestido especialmente para a grande
cerimônia.
Ouvi o zunido
harmonioso do Carro de Bois, na verdade uma música suavemente LINDA, ooon,
ooon, uoon, uoon, in,in, in, ã,ã,ã,ã,
nin-õõô e parou na frente da nossa Casa.
O boiadeiro
condutor, seu Tonim, acariciou os bois e pôs a escadinha para os passageiros
subirem. Tudo era belo.
Rumamos para
Buriti, ao som daquela orquestra incomparável e inconfundível, FELIZES.
Chegamos à Igreja
no momento exato para as cerimônias do dia.
Morando próximo da
Igreja Matriz, fui o terceiro da fila de confissão! Esperava-nos um Frei
barbudo, e ao me aproximar do confessionário, ajoelhei-me muito contrito, para
confessar o meu feíssimo pecado e, sem olhar para o confessor, ouvi-o dizer,
reze um Pai nosso e uma Ave Maria e Deus vai lhe proteger! Eu, decepcionado,
tentei falar e ele continuou, falando calmamente: criança não tem pecado, vá
rezar, vá, vá e sorriu!
Rezei e fui para o meu lugar no banco da
família e, quando tentei falar, ouvi aquele “xiiiiiiiiii, não pode, você ainda
vai receber JESUS CRISTO”. E novamente voltei a ter preocupação, agora em
relação à Hóstia Consagrada, pois minha querida avó havia alertado a todos nós,
que quem não confessasse todos os pecados, no momento em que o padre colocasse
a Hóstia na boca do pecador MENTIROSO, ao invés de receber JESUS CRISTO, o
Capeta é quem apareceria!
De mãos postas, aguardei a minha vez de
receber o sacramento da minha PRIMEIRA COMUNHÃO, que alegria, quando senti, que
o CRISTO JESUS, estava comigo, que eu realmente não era PECADOR!
O almoço naquele
dia, em minha casa, foi o mais festivo e mais Santo de todos!
Depois das
comemorações, voltamos no nosso CARRO DE BOIS, sob o comando do fiel Tonim que
nos chamou com um Aboio sertanejo buritiense: ÔÔÔ, ÊÊÊ mêur Bôiiím, Rãmus Roltá
Pár nóçaas cazím- as, Rocêíz rã-u cumê um Capunzíiiim, mêur Bichiíinz Bunitinz
e Bonzín - us, ÔÔÔÔ - ÀÁÁH!
Jamais esqueci e
jamais esquecerei a aquele dia.
Hoje, muitos anos
se passaram e eu sou de fato um pecador CONFESSO, que continua crendo,
confiando na Trindade Divina, na nossa Mãe Maria Santíssima e certo de que Aquele
mesmo JESUS CRISTO, que eu recebi pela primeira vez continua comigo e eu com
ELE.
SOBRE O AUTOR
É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti.
Djalma,boas lembranças primeira comunhão,Crisma,saudades de tudo daquela época....
ResponderExcluirMuito bom ler essas narrações que trazem tão viva memória de Buriti. Posso ver meu pai nelas!
ResponderExcluirDjalma, meu amigão, parabéns mais uma vez. Você foi eleito o nosso contador oficial de belíssimas histórias. Depois tente falar, por favor, sobre a usina que fornecia energia elétrica.
ResponderExcluirEsse governo do ARnaldo é o pior da história de buriti -ma . Com menos de dois meses já conseguiu mostrar sua incapacidade de administração.
ResponderExcluirARnaldo
ResponderExcluirARnaldo, tudo a mesma coisa
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