Coluna SEXTA DE NARRATIVAS - RAIMUNDO PACHOLA, UM ENGRAXATE ESPECIAL

 

Raimundo Pachola, normalmente tratado e conhecido de toda a Buriti da minha bela Infância foi o Engraxate mais popular daquela época. Seu ponto de trabalho diuturno de Janeiro a Janeiro era num cantinho do saudoso CORETO, onde a nossa Banda de Música executava suas atividades, principalmente no período do Festejo de SANT'ANA, todavia também pela comemoração do aniversário da cidade e de outras grandes datas.

Sendo o Coreto o local de encontros mais buscado, pelos casais de namorados, pelas famílias, pois era aprazível, com um serviço de Bar e Lanchonete, era excelente para o nosso Amigo Pachola, que tinha gratuitamente assegurada a localização da sua Empresa, uma Caixa de madeira, com as latinhas de graxa de cores preta, marrom e branca e as demais ferramentas, um banquinho chamado tamborete para os clientes e outro bem menor, para ele.

Raiava o dia e lá estava o nosso engraxate em seu labor, simpático, mesmo com os brincalhões da época, que inventaram uma cantiga nada elegante, para espicaçar um profissional esmerado e educado.

Normalmente meninos ou rapazolas eram os seus perturbadores sem graça a cantarolarem uma música sem melodia : Pachola, vitrola, caixola, cu de mola, em razão de ser ele um gordo de quadris e nádegas moles, além de gostar de assobiar suas músicas preferidas. Ele somente olhava para os que tentavam atrapalhar o seu trabalho, com os gracejos sem graça.

O apelide PACHOLA não combinava com a pessoa, tendo em vista que era um trabalhador exemplar, mas segundo ele foram seus irmãos que inventaram. Não sabia o que significava, então não se ofendia. 

Curioso, eu visitei as páginas do meu dicionário em um dia de sábado, sem aula, posicionei-me cedo na frente do Coreto, para esperar alguns dos meus colegas brincalhões, que não tardaram a chegar. Fui ao encontro deles e lhes perguntei se sabiam o que era um PACHOLA e, como eu imaginava, ninguém sabia. Perguntei em seguida se eles achavam que uma pessoa que trabalhava todos os dias era PREGUIÇOSO e a resposta foi negativa.

Esclareci a imprecisão do apelide e pedi que respeitassem o nosso conterrâneo e amigo, que era digno da nossa admiração e que tantas vezes tinha nos sido útil com a sua arte de engraxar os nossos surrados sapatos e alpercatas, mesmo sendo pago pelos seus serviços. Todos concordaram e aceitaram pedir desculpas ao nosso Raimundo Pachola e ele abriu um sorriso de agradecimento dizendo, DINADA, eu núm mim zanguêê cúm roceis não. 

Depois daquele dia o engraxate Raimundo Pachola, teve aliviadas as gozações, pois aprendeu reagir às traquinagens perguntando para as pessoas se eles sabiam o que era um Pachola e, já que em geral ninguém sabia mesmo, ele explicava e assim continuou sendo chamado pelo codinome, porém a música nunca mais foi cantada.

Numa bela tarde, fui surpreendido pelo PACHOLA, que foi a nossa Casa e falou para o meu Pai, que ele tinha um filho que já era um OMIZINHO, Eu, após contar o que havia feito em seu benéfico e acrescentou que a partir daquele mesmo dia, os meus sapatos engraxados ou consertados por ele, seriam DIGRAÇA.

Papai riu, ficou sério e agradeceu o gesto nobre dele e disse - lhe, que continuasse a receber os valores dos seus serviços, chamando - me em seguida para um abraço, dizendo - se muito ORGULHOSO da minha atitude. Foi a minha segunda defesa quando menino, em favor de uma pessoa humilde, a primeira havia sido a da minha inesquecível dona Maria Francisca, a LAZARINA.

PACHOLA continuou o seu caminhar laborando no mesmo ofício e faleceu quando eu ainda era um estudante da Escola Técnica Federal do Maranhão, deixando saudade e uma ausência sentida para os que o conheceram e acompanharam a sua trajetória de buritiense humilde, sério e trabalhador. Eu lamentei e comovi-me com sua partida para o Oriente Eterno. 

RAIMUNDO PACHOLA, por você fazer parte da História de HONRADEZ da nossa cidade, eu o HOMENAGEIO com o Título de O ENGRAXATE ESPECIAL E MARCANTE de BURITI.