O SENTIDO DAS ACADEMIAS DE INTELECTUAIS
Vale o registro do auspicioso evento ocorrido no dia 21.4.2023, em Chapadinha (MA), com a reativação da Academia de Letras, Artes e Ciências de Chapadinha – ALACC. De certo, isso se deveu à iniciativa de literatos e outros interessados, entre os quais pontificam Raimundo Ferreira Marques e Evaldo Carlos, atuantes acadêmicos da Academia Buritiense de Artes, Letras e Ciências (Buriti-MA), criada há pouco mais de três anos, cuja performance já mereceu moção de aplausos da Câmara Municipal buritiense. Em circunstâncias como essa é que surgem os líderes, graças aos quais muitas outras tomadas de posição acontecem nas cidades, como essas do interland maranhense, que merecem loas justificadas, para que sirvam de inspiração para outras urbes.
É possível acreditar que a restaurada ALACC experimente, sem demora, uma fase de forte animação, com a implementação de ações pujantes nas áreas de atuação a que se propõe o Sodalício ressurreto, a partir da própria iniciativa, seguramente inspirada no melhor idealismo. Afinal, a cidade de Chapadinha desponta como uma das mais prósperas do Maranhão, em todos os aspectos, inclusive, na revelação de talentos na literatura, na arte e na ciência, que se nutrem com um alvissareiro complexo educacional.
Esse evento, portanto, enseja reflexões sobre o papel das academias que se vêm multiplicando de forma animadora em diversas cidades maranhenses. Nesse refletir tópico, direcionado para as razões de ser de uma academia, constituídas por um seleto grupo de intelectuais que, de uma forma ou de outra, se destacam na comunidade a que pertencem, seja na produção da literatura, seja nas diferentes manifestações artísticas, seja na mostra de aptidões científicas que animam o porvir.
Sabe-se que a Academia Brasileira de Letras (ABL) – para tomar somente esta, como exemplo -, foi criada em 1897, com o escopo precípuo de preservar a língua portuguesa, alimentar dicionários com a introdução de neologismos advindos com a dinâmica dos avanços linguísticos, sem perder a essência do vernáculo, com suas regras gramaticais cristalizadas. Machado de Assis, Joaquim Nabuco e outros – fundadores da ABL -, também a conceberam com o objetivo de oportunizar lançamentos de obras inéditas com comprovada qualidade.
Esses objetivos primordiais, todavia, não inibiram o surgimento de Academias de Artes e de Academias de Ciências, isoladamente, além das academias organizadas nos Estados com o mesmo formato original. Não se deixe sem registro, também, a proliferação de academias jurídicas, alimentando propósitos semelhantes. Agora, porém, já se vê a fusão de letras, artes e ciências em academias, como a ABALC. Evidentemente, essa aglutinação de áreas também amp0lia horizontes de produção de trabalhos no espectro cultural.
O que me permito explorar, neste ensaio pretensioso, é a efetividade dos objetivos, estatutariamente regrados, mas nem sempre observados. Na minha compreensão, a efetivação dos objetivos concretos será inviabilizada, se a produção de trabalhos dos acadêmicos não for socializada. Quando sustento que desejo pertencer a uma Academia dinâmica, quero dizer uma academia aberta, que abomine a letargia improdutiva e desanimadora. Não consigo aceitar, sem resmungos, uma academia que se propõe a cultivar a literatura, a arte e a ciência, escondida entre muros intransponíveis, a ensejar refúgio de acomodados, inconcebível nos dias de hoje. Ressalvo que não é este o caso de nossa já gloriosa ABALC. O recado é para academias inertes, que se comprazem com a elitização repulsiva, banalizando o auspicioso invento do final do século 19, com Machado de Assis.
É com esse pensar resoluto que venho orientando a minha postura acadêmica na ABALC. Não sem propósito, além da publicação e distribuição de ensaios literários em forma de livros, resolvi reocupar o espaço que me foi franqueado pelo confrade Aliandro Borges, Presidente da ABALC, no seu “Correio Buritiense”, a despeito das dificuldades visuais. Aliás, a mudança do título da coluna para ALÉM DA LUPA foi motivada por essas circunstâncias. Considero-me, agora mais do que nunca, uma “ilha tecnológica”, cercada de telas e lupas” benfazejas! Sem elas, o “ler” e o “escrever” estariam irremediavelmente comprometidos.
Confio em que a coirmã ALACC reinicie suas atividades animada com essa orientação pragmática, adotando o lema dinamismo e abertura; dinamismo na produção dos acadêmicos, e abertura, na socialização dessa produção, na busca da efetividade concreta dos seus fins.
SOBRE O AUTOR
Benedito Ferreira Marques é Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1967); cursos de Especializações (Direito Civil – Direito Agrário e Direito Comercial) e Mestrado em Direito Agrário, todos pela Universidade Federal de Goiás; Doutorado em Direito, pela Universidade Federal de Pernambuco; Professor de Direito Civil, na PUC-Goiás (1976-1984) e de Direito Civil e Direito Agrário (Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás /UFG (1980-2009). Advogado do Banco do Brasil (1968-1990). Diretor da Faculdade de Direito da UFG (2003-2005) e Vice-Reitor da UFG (2006-2010). Autor de livros jurídicos e não jurídicos (15) e de artigos científicos em revistas especializadas. Conferencista e palestrante em congressos, seminários e simpósios. Tem outorgas de títulos de “Cidadão Pedreirense” (1974), “Cidadão Goiano” (2007) e “Cidadão Goianiense” (1996), além de dezenas de medalhas de honra ao mérito. Pertence ao Quadro de Acadêmico-Fundador da Academia Buritiense de Artes, Letras e Ciências – ABALC, onde ocupa a Cadeira nº6, que tem como Patrono Plínio Ferreira Marques. Colabora com artigos e crônicas para o “Correio Buritiense”.
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