Dilma
Rousseff e Aécio Neves chegam empatados ao final de uma corrida de obstáculos
que será definida nos mínimos detalhes; se Aécio conquistou apoios importantes,
como os da família Campos e de Marina Silva, Dilma tem mais governadores e
candidatos que disputam o segundo turno; se Dilma venceu o primeiro debate, na
Band, Aécio se saiu melhor no SBT, com a ressalva de que o tom duro contra
Dilma repercutiu mal junto a alguns grupos avaliados em pesquisas; a uma semana
da decisão, caberá aos indecisos – e àqueles que decidem na última hora –
definir o futuro do Brasil pelos próximos quatro anos
*Por
Marco Damiani, site 247
Todos os dias na longa, surpreendente e espetacular
campanha presidencial que se encerra no domingo 26 as diferenças entre PT e
PSDB ficaram claras. A base ideológica, a escola econômica e os compromissos de
classe que separam os dois partidos se afastaram mais do que nunca e, ainda
assim, a eleição vai ser decidida nos detalhes.
Nos próximos nove dias, a partir do sábado 17, a
presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves estarão aproveitando os
ventos finais de uma corrida em tudo parelha. O bate-rebate foi o jogo
escolhido na semana anterior à decisiva, e sem dúvida será a tônica do que virá
pela frente até o freio de 48 horas para a reflexão do eleitor. Naquelas
últimas horas, apontam as pesquisas, estará sendo escolhido o vencedor final.
Afinal, os levantamentos sobre o modo de escolha dos brasileiros no primeiro
turno deste 2014 apontaram que 6% definiram na véspera em quem iriam votar – e,
importante, 9% se decidiram no próprio domingo, literalmente a caminho e diante
da urna. Como o pagamento de impostos: na última hora.
A cristalização da definição eleitoral, por outro
lado, se manifestou em muitos números das principais pesquisas. À medida em que
Aécio e Dilma consolidaram uma situação de empate técnico, com 51% contra
49% pelo Datafolha da quinta-feira 16, o número de indecisos se manteve
estável. Um indicador de que só haverá resultante na cabeça do contingente que
decidirá a eleição, sobre tudo o que se viu e ouviu, na undécima hora.
Pelos placares apertados de Ibope e Datafolha, e
considerando os resultados de primeiro turno, nesta eleição polarizada é certo
dizer que a decisão estará nas mãos dos últimos indecisos.
No sangrento debate da quinta-feira 16, Aécio
deixou o ringue com Dilma em situação de nocaute técnico. Menos a ver com a
queda glicêmica que a presidente apresentou – ela que, nitidamente, expressava
cansaço e lentidão de raciocínio diante do traquejo parlamentar de vida inteira
do senador -, e mais em razão de perguntas que ele desferiu e que ficaram sem
respostas dela. Exemplo: Dilma já disse, mais de uma vez, que não governa pela
mídia, em cima das informações que são publicadas, especialmente denúncias de
corrupção.
- Não vou dar à imprensa o poder que ela não tem,
definiu-se Dilma sobre a relação.
Mas no debate nos estúdios do SBT, a presidente
simplesmente ficou calada quando Aécio a questionou sobre falta de providências
administrativas contra acusados de corrupção na delação premiada de Paulo
Roberto Costa e Alberto Yousseff. Ela tem a resposta que acha a mais adequada, mas
não a concedeu ali. Foi um detalhe que a presidente, nas condições daquele
encontro, deixou passar.
Porém, também por detalhes muitos eleitores – ou,
precisamente, muitas mulheres eleitoras também se sentiram atingidas pelo tom
inquisitório que Aécio usou contra a presidente, chamada várias vezes de
‘mentirosa’. Levantamentos dos dois partidos detectaram que o excesso de ênfase
pode ter levado Aécio a ultrapassar o ponto máximo e passado, então, a perder
pontos. Ele teria sido visto como grosseiro contra a figura da presidente.
Na sexta-feira 17, ao lado de Marina Silva, o
próprio Aécio resolveu corrigir sua rota:
- Eu lamento profundamente o tom do debate, eu
quero propor ideias, amenizou.
A considerar que o tucano venceu o segundo debate,
pode-se avaliar que a presidente se saiu melhor no primeiro encontro, realizado
pela Rede Bandeirantes.
Na sexta-feira 24, Dilma e Aécio tem encontro
marcado nos estúdios da Record e da Rede Globo. Este será o último confronto.
Não houve consenso sobre a participação de jornalistas da emissora com a
realização de perguntas – e só haverá trocas de palavras entre os contendores.
Um detalhe, e toda a campanha poderá se definir.
Já neste domingo 19, a pauta para o correr da
última semana da campanha será dada pelo debate organizado pela Rede Record. As
interrogações já estão no ar: Dilma irá se recuperar, Aécio se manterá no
ataque, haverá rancor ou protocolo no enfrentamento?
Na estratégia de rua de PT e de PSDB, também a luta
está igual. Pode-se gostar ou não, mas as regiões Norte e Nordeste vão se
mostrando como redutos do PT e de Dilma, enquanto o Sudeste e o Sul dão mais
densidade à Aécio. Dentro desses grandes campos regionais, as campanhas se
movimentam intensamente nos chamados Estados mais populosos.
Dilma ficou com os dois candidatos a governador do
Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão e Marcelo Crivella, como que trabalhando
para ela no terceiro eleitorado do País. Nenhum deles admitiu apoio a Aécio. Em
compensação, o tucano ficou com o apoio da família de Eduardo Campos, em
Pernambuco, que teve peso para virar a eleição para governador no Estado. No
Rio Grande do Sul, a virada de José Ivo Sartori, do PMDB, de força para Aécio,
mas o governador Tarso Genro não desistirá da luta antes do final, em benefício
de Dilma.
São Paulo e Minas Gerais, mais uma vez, são
estratégicos. O PT centrou boa parte de sua campanha de segundo turno na
informação de que Aécio perdeu as eleições em seu Estado natal. E terá de
manter ou ampliar a diferença para fazer Dilma reeleita.
Em São Paulo, o PT colheu sua principal surpresa
negativa no primeiro turno. Dilma perdeu para Aécio por uma diferença de 3,5
milhões de votos. O partido tratou de reforçar o chamamento à militância para
evitar que uma nova derrota por grande diferença se repita.
Por mais que tenha recolhido apoios entre partidos
e políticos, como o PSC, o PV, o PSB e a família Campos, Aécio não abriu a
frente confortável que gostaria sobre Dilma. Ele lidera os levantamentos de
institutos como o Paraná e o Census, mas o empate técnico apurado pelos maiores
Datafolha e Ibope é o dado mais aceitável pelas campanhas.
Depois de um momento de dúvida, o PSDB resolveu
apostar em Marina como grande aliada. No seguinte ao debate do SBT, Aécio
apareceu ao lado da ex-candidata do PSB, que estava esfuziante e de muito bom
humor. Ela pregará por Aécio, numa tentativa de reunir a grande maioria de sua
herança de votos na conta dele. O desgarramento de boa parte do rebanho dela é
apontado como fator decisivo para o quadro de empate técnico.
A esta altura, com todas as atenções voltadas para
a presidente e o senador, qualquer fato novo poderá ser decisivo. Pelo
histórico da campanha, repleta de surpresas e marcada pelo inusitado, e os
longos dias pela frente até o domingo 26, tudo ainda está por acontecer.
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