Remédios são usados para controlar sintomas; pesquisadores testam
tratamentos específicos.
*Da Folha de
São Paulo
O mundo espera ansioso enquanto cientistas trabalham na busca de uma
vacina e medicamentos para combater a Covid-19, enfermidade causada pelo novo
coronavírus.
Mas, na falta de remédio específico ou imunização, o tratamento de quem
está doente inclui o uso de analgésicos e antitérmicos, como paracetamol e
dipirona, para tratar os sintomas, assim como hidratação e repouso. A OMS
(Organização Mundial da Saúde) não recomenda automedicação.
Na quinta-feira 19/3, a organização voltou atrás na
restrição que havia feito ao uso do anti-inflamatório
ibuprofeno para controlar os sintomas de coronavírus. Entre os medicamentos
cujo princípio ativo é o ibuprofeno estão o Buscofem, indicado para cólicas
menstruais, o Artril, para artrite, e o antitérmico Advil.
Segundo a OMS, 80% dos casos de Covid-19 evoluem sem necessidade de
tratamento especial.
Uma análise estatística publicada pela revista especializada Science
indica que na China quase 90% das pessoas doentes passaram despercebidas quando
ainda não havia restrições de viagens em território chinês.
A OMS frisa que antibióticos não devem ser usados para prevenir ou
tratar infecção por coronavírus. Os antibióticos funcionam apenas contra
bactérias. Esse tipo de medicamento, porém, pode ser utilizado em caso de
eventuais infecções decorrentes da doença.
Algumas fake news que circularam na internet falavam que era possível
tratar o coronavírus com vitamina C, chá de ervas, “shots” de imunidade,
ozonoterapia ou mesmo água quente, informações que não procedem. No Irã,
pessoas morreram envenenadas após tomarem álcool puro, acreditando
ser essa uma forma de evitar o vírus.
CLOROQUINA E HIDROXICLOROQUINA
Na
quinta-feira (19), o presidente americano Donald Trump e Stephen Hahn, da Food
and Drug Administration (FDA), disseram que a agência americana de fiscalização
e regulamentação de alimentos e remédios havia aprovado o uso em pacientes do
coronavírus dos medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina, vendidos sob
receita para o tratamento de malária, lúpus e artrite reumatoide.
Não houve
testes clínicos para determinar se esses medicamentos de fato funcionam contra
a doença, e Hahn não explicou por que a FDA decidiu apoiar seu uso; tampouco
explicou se a medida anunciada representava aprovação formal de um novo uso
para os medicamentos.
Ainda
assim, a declaração gerou uma corrida
às farmácias americanas.
Replicada
nas redes sociais pelo presidente Jair Bolsonaro, a menção teve efeito
semelhante aqui, deixando pacientes com artrite, lúpus eritematoso, doenças
fotossensíveis e malária sem
o medicamento.
Na
sexta-feira, a
operadora Prevent Senior
e o Hospital Israelita Albert Einstein informaram que
começariam a usar, em caráter experimental, a hidroxicloroquina em seus
pacientes atingidos pelo coronavírus e farão testes da droga.
Testes
preliminares feitos com um pequeno grupo de pacientes na China também sugerem
que um medicamento
desenvolvido para combater outras doenças virais também poderia
ter efeitos positivos contra a atual pandemia de Covid-19.
Trata-se
do favipiravir, produzido comercialmente no Japão com o nome de Avigan. O
fármaco ainda não tem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), não podendo, portanto, ser vendido no Brasil. Hoje, ele é produzido
apenas sob demanda no país onde foi desenvolvido.
Em entrevista
à Folha, a médica curitibana Mariângela Simão, diretora-assistente
da OMS, recomendou que informações que circulam na internet sobre tratamento
sejam checadas.
“Ainda que
haja 200 ensaios clínicos sendo implementados, não existe conclusão sobre
nenhum deles”, disse Simão.
VACINA
O caminho
percorrido por cientistas que buscam uma vacina ou medicamento
eficaz é o mesmo que se aplica a outras doenças virais.
No caso da
vacina, com base no material genético do Sars-CoV-2, nome oficial do
novo vírus, os cientistas pesquisam formas de estimular a produção de
anticorpos. Já para criar um medicamento antiviral é preciso atingir a parte
específica responsável pela reprodução do vírus e destruí-lo sem matar as
células infectadas no corpo humano.
O desafio
é lidar com patógenos adaptáveis, que se reproduzem rapidamente, com alterações
genéticas que podem tornar a droga desenvolvida ineficaz.
Nos
Estados Unidos, voluntários
sadios começaram a testar uma vacina experimental para o novo
coronavírus produzida pela equipe do Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser
Permanente, em Seattle.
Trata-se
de uma vacina de mRNA (RNA mensageiro), molécula “prima” do DNA que
costuma carregar as informações necessárias para a produção de uma proteína até
as “fábricas” da célula.
Com base
no material genético do novo coronavírus, os pesquisadores fabricaram moléculas
de mRNA que contêm a receita para a produção da proteína da espícula do
parasita —o “espinho” ou “arpão” que ele usa para se fixar nas células humanas.
A ideia é
fazer com que o organismo dos pacientes produza apenas essa proteína, com base
no mRNA da vacina.
Com isso,
o sistema de defesa das células reagiria como se tivesse sido invadido pelo
vírus real, produzindo anticorpos —moléculas defensoras— com “design” específico
para o combate ao Sars-CoV-2. Diante do patógeno verdadeiro, essas pessoas
estariam imunes.
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