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Coluna SEXTA DE NARRATIVAS - MEU CONTO NATALINO


Era o ano de 1959, quando o Pároco da minha Buriti querida era o Padre Manoel Prestes de Lima, muito trabalhador, conseguiu movimentar os professantes da Fé Cristã Católica da nossa cidade no sentido de uni-los espiritualmente e em esforços para angariar recursos destinados às melhorias da Igreja Matriz e da Casa Paroquial, residência dos padres, freiras e sede da Escola Paroquial. Foi na administração dele que compramos o primeiro Relógio da Matriz, que informava com suas badaladas o CAMINHAR do Tempo diuturnamente. Ele era um padre incansável e em quase todos os meses do ano realizava festejos dos Santos e Santas correspondentes. Nós os estudantes das três Escolas, Grupo Escolar Antônia Faria, Escolas Reunidas Municipais e Escola Paroquial, éramos convocados através das respectivas Diretoras, a participar desse trabalho comunitário religioso, na verdade os pedintes de joias para os leilões. Cada escola recebia a lista de povoados a serem visitados pelas equipes, um trabalho que realizávamos com muito boa vontade e com Alegria. Naquele ano dentre os povoados listados estava incluído o conhecido Campestre, onde eu tive uma das mais comoventes lições de Humanidade, de Humildade Cristã e de AMOR no verdadeiro sentido ensinado por Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres. Depois de visitarmos quase todas as casas daquele povoado, com muitas joias já em nossos ombros cansados, paramos diante de uma casinha muito simples, e pedimos a joia final daquele dia. Gritamos o popular ÔH DE CASAA, e ouvimos aquela música linda e também muito popular: ARRUDIAA, meus Fíiis! 

Arrudiamos e chegamos ao quintal da casinha onde encontramos uma senhora simpaticíssima que nos recebeu com um belo boom díaaa meus FÍIIIIS e um llindo sorriso. Logo em seguida eu passei a esclarecer a ela o motivo da nossa visita ao cabo de que ela nos disse: meus FÍIIS ESPERA um instantim, queu vô alí buscá un-a joia pa Nossa Sin-óra Santana. Não demorou muito e ela retornou trazendo uma abóbora bastante Grande, e a entregou nas minhas mãos dizendo, essa é abóba de leite, maxtá madurin-a, meu FÍII. Recebi contente, coloquei a abóbora no chão e dei-lhe um abraço de agradecimento, gesto seguido por todos os componentes da nossa Equipe. Em seguida iniciei a despedida da bondosa senhora, sendo mais uma vez surpreendido por ela, que falou carinhosamente dizendo que esperássemos mais um instantim, enquanto ela iria preparar um cafezinho para nós. Eu quis dispensar o café pensando em poupar-lhe trabalho, porém ao fitar o semblante dela, não tive coragem porque percebi que ela não aceitaria a recusa. Aceitamos e nos sentamos num tronco de palmeira de babaçu sobre duas forquilhas de candeia, que era o sofá da casa. 

Ela preparou o café em uma panelinha de barro e nos serviu em dois copos de alumínio, nos dizendo com um sorriso nos olhos, que só dispunha daqueles dois copos, mas eram limpinhos e depois que cada um bebesse, ela os lavaria novamente na sequência, e assim procedeu e nos encantou ainda mais. Finalmente conseguimos fazer o agradecimento final e nos despedimos. As atitudes daquela senhora, que eu a chamarei apenas de dona Maria, marcaram-me indelevelmente pra toda a minha vida. 

Voltamos para a sede da cidade, levando as joias arrecadadas e, após efetuarmos a entrega da nossa contribuição, o Padre Prestes nos agradeceu e nos solicitou que avisássemos aos nossos pais, que comprassem um presente de acordo com as condições de cada um para serem distribuídos aos mais carentes na Noite de Natal. 

Ao chegar em casa pedi ao meu Pai que comprasse duas xícaras com pires para que eu levasse como o meu presente de Natal. Ele prometeu-me e eu o abracei em agradecimento. 

Chegou a noite esperada para homenagearmos o nosso DEUS MENIMO, símbolo central da festa natalina. Eu, naquele dia, fazia parte do coral da Igreja de SANT 'ANA e estava eufórico, iria subir com o meu grupo a escada, ocupar o Palco suspenso da Igreja e ficarmos à vista de toda a comunidade entoando o consagrado e tradicional Noite Feliz, e ainda agraciarmos os nossos irmãos e irmãs mais necessitados, uma benção! Tudo ocorreu como esperado. Entreguei o meu presente a uma senhora e recebi dela um abraço muito fraterno. No entanto isolei-me um pouco do meu grupo e o meu Pai percebendo, questionou-me a razão de não estar Alegre. Contei-lhe que estava FELIZ e agradecido a Deus por TUDO. Ele insistiu em saber por que eu não demonstrava esse estado d'alma. Confessei-lhe então, que esperava encontrar a dona Maria do Campestre, após contar-lhe a história dela. Ele puxou-me pelo braço e saímos um pouco do centro da Igreja e falou baixinho no meu ouvido: Eu vou comprar um conjunto de café e VOCÊ vai levar pra sua amiga Maria, está BEM? 

Não hesitei e dei-lhe um abraço e um beijo, quase gritando, Obrigado Papai!


No dia 27 de dezembro daquele ano eu fui ao povoado Campestre e após ARRUDIAR novamente a casa de dona Maria, entreguei a ela o meu presente, recebi dela um abraço caloroso e algumas lágrimas caídas no meu ombro. Foi o Natal mais inesquecível da minha Infância.




SOBRE O AUTOR

É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti. 


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