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Coluna MEMÓRIAS E VIVÊNCIAS - CORAÇÕES DE ARTESANATO

 *Por Francisco Carlos Machado

CORAÇÕES DE ARTESANATO

Em um dia dessa semana, acordando as duas da madrugada, plenamente ativo e disposto, buscando a execução de um pequeno projeto paisagístico - fazer corações de artesanato -  usando molduras de isopor e uma de plástico.  

Para isso, no silêncio da madrugada, na cozinha de casa desenhava, cortava diferentes tamanhos, cavando na placa lisa do isopor os formatos de corações. Na   lavanderia, fora da residência, tendo massa de cimento, areia; um pouco de pó de gesso e água, misturava tudo, mexendo com a mão direita, até a massa heterogenizar. Pronta a mesma, joguei - a nas molduras de isopor e do plástico, onde deveriam secar.  Assim, teria simples corações construídos artesanalmente, na alta madrugada.

De fato, entre as duas da manhã até as cinco e meio da madrugada, construí sete corações artesanais, ficando satisfeito pela obra do meu trabalho. Nisto, ao observar o tempo, percebi que a aurora já havia surgido, logo teríamos claridade plena e sol.

Foi então que pensei em Fidelis, meu cachorro, um lindo cão preto com branco que viveu 11 anos, me deixando há um ano e oito meses.  Ele era o meu melhor amigo entre os animais e entre todos os seres humanos.

Uma das paixões de Fidelis era caminhar comigo em qualquer hora do dia. Ir comigo para todos os lugares, até num culto ou missa.  Caminhar tanto na chuva como debaixo do sol.  Narrando, tendo paixão pessoal de cedinho caminhar para as margens do rio Parnaíba, contemplar o sol nascendo - essa passou ser uma das paixões de Fidelis também. Ele amava tanto ir ao rio para ver o nascer do sol, que algumas das vezes chegava a me acordar para irmos. Os animais, em suas inteligências  e conexão com as coisas existentes, gostam também do belo, do sol e da terra.

Fidelis amava o nascer do sol.

Ao lembrar deste gosto dele (meu também que o levava), ao terminar o trabalho dos corações de artesanato, meus olhos se encheram de lágrimas.  Era a saudade profunda de Fidelis aparecendo cedo na alma.  A falta ainda existente da amizade e da companhia que tivemos, não existir mais nas escuridões e nos dias claros do meu viver.  A ausência desse  amor philéo, fiel de Fidelis, por mim, dói. A ausência do amor causa dores.

Diante, em memória de Fidelis, decidi ir ver o sol surgir as margens do rio. Fui em estado de grande emoção.  Entre minha casa e o rio Parnaíba a distância são de uns vinte minutos.

Caminhando nas avenidas e nas ruas da minha cidade mãe, encontrei diversos conterrâneos e amigos. Quando tomava a iniciativa de os saudar com um olá ou recebia um bom dia, os fonemas saídos da minha boca, eram embargados. Era a dor da saudade forte de Fidelis, tornando os olhos lagrimejados constante, pois no trajeto inteiro as memórias me faziam ver Fidelis me seguindo (ora atrás de mim, ora na minha frente, até chegar no rio), onde tínhamos oportunidades de ver o sol surgindo atrás dos morros, expandindo as primeiras luzes; outras, estava na metade da bola infantil amarelada e ora   o sol já havia jorrado seu poderoso primeiro raio em todo corpo líquido parnaibano.

Ao vermos os espetáculos naturais, eu e ele fazíamos silêncio. A espiritualidade da contemplação era alcançada em nós dois. Seus olhos fitavam o sol aparecendo. Era belíssimo de ver meu amado Fidelis vendo os raio primeiros do sol. Sua alma canina era como a minha, tocada.

Como inicie a narrativa dessa memória fazendo menção das confecções artesã de corações, cujo objetivo é ornamentar as arvores mais antigas da pracinha defronte minha casa, afirmo não tenho poder criativo algum, nem espiritual para fazer nada por meu coração vivo, carne e artérias, deixar as dores e as saudades arrebatadoras dele.  Nem você também. Somente Deus. Entretanto, eu desejo que ele não faça nada, nem o tempo.

Desejo sempre continuar lembrando de Fidelis.  Do seu amor incondicional me oferecido; as nossas aventuras e caminhadas. Enquanto eu viver, desejo lagrimejar os olhos por que Fidelis, devido não me fazer me mais companhia.  Quero essas saudades de tantos momentos juntos no Garapa e em São Luís.

Desejo isso, neste coração de carne, sangue e artérias, enquanto aperfeiçoou e aprendo fazer outros corações de artesanato para ornamentar árvores mais velhas da minha cidade natal. 

SOBRE O AUTOR- 

Francisco Carlos Machado - Escritor, poeta, professor, titular da cadeira nº 20 da Academia Buritiense de Artes Letras e Ciências (ABALC).

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